02 maio 2012 . 12:54
O ritmo lento do filme Um Doce Olhar contrasta com a dinâmica de suas cores. Este contraste expõe a lógica da floresta: exuberante, imponente e sazonal.
FONTE: Carolina Maria Ruy
Um Doce Olhar (Bal)
Turquia/Alemanha, 2010
Semih Kaplanoglu
Em seu ritmo a floresta, na região montanhosa da Turquia, dá as condições para, por exemplo, a produção do mel pelas abelhas, e da extração do mel pelo homem. E é desta atividade, sustentada pelos humores da floresta, que sobrevive a família de Yussuf, um menino em idade pré-escolar.
Seu pai, o apicultor Yakup (Erdal Beşikçioğlu), não é homem de muitas palavras, tampouco de muita abstração. Yakup é homem de objetos, de sentidos, de percepção e matéria. Como um artesão, ele realiza elegantemente seu oficio e cria com esmero o único filho, o pequeno Yussuf.
A beleza das imagens e da convivência harmônica entre ele, Yussuf e sua mulher, é uma ode à vida rural, simples e próxima da natureza, e à capacidade do corpo humano de realizar trabalho.
Por outro lado é surpreendente constatar que esta história se passa nos dias atuais e não há cem ou há mil anos. E, no decorrer do filme, todo seu encanto revela-se sustentado por uma linha tênue. Se por um momento o ambiente rústico seduz por remeter à vida bucólica, por outro ele mostra suas armadilhas. A vida, neste caso, orquestrada pelas leis de um cenário natural denso, cresce por conta própria, à revelia de qualquer intervenção.
E assim, como o filme coloca sutilmente, gerações caminham lentamente. Adaptando-se lentamente à seu tempo. Buscando, lentamente, dominar a palavra. E fazer com que a palavra e a ideia imperem sobre a matéria.
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