11 out 2013 . 16:08
V de Vingança (V de Vendetta)
EUA, 2006
James McTeigue
Com Natalie Portman, Hugo Weaving, Stephen Rea
Roteiro: Andy Wachowski, Lana Wachowski
HQ original: Alan Moore & David Lloyd
Por Alexandre de Melo
Era para ser apenas uma adaptação de uma história em quadrinhos para o cinema. Porém, V de Vingança tornou-se um símbolo de resistência popular no mundo todo. As ideias presentes na obra se espalharam em cada jovem que vai às ruas protestar usando a máscara com o sorriso irônico de Guy Fawkes. Hoje, V de Vingança é um símbolo pop mesmo falando sobre assuntos complexos como apologia ao terrorismo, homofobia, mobilização contra governos totalitários, anarquismo e fascismo.
Por partes.
Allan Moore, o bruxo doidão dos quadrinhos, juntou seu texto às ilustrações de David Lloyd e, entre os anos de 1988 e 1989, publicou em versão colorida a Graphic Novel V de Vingança.
A história original da HQ se passa no ano de 1997 em uma realidade alternativa. Após uma hecatombe nuclear, a Inglaterra vive sob domínio de um governo ditatorial fascista. O Estado controla a mídia e a liberdade do povo por meio de polícia secreta e campos de concentração destinados às minorias raciais e sexuais. Os departamentos do governo recebem nomes como boca, olhos, ouvidos, nariz e dedos.
Este cenário é uma forte alusão às obras de Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo e a George Orwell que escreveu o livro 1984. Na HQ, o personagem Adam Susan é o líder do partido Nosfire. A semelhança com Hitler e o partido nazista não é mera coincidência.
Vale lembrar que os quadrinhos foram feitos no período que o governo da dama de ferro, Margaret Thatcher, dava os primeiros passos do neoliberalismo no Reino Unido e o socialismo estava em declínio na União Soviética.
A história começa quando os agentes do dedo (polícia secreta) tentam violentar a jovem Evey que levava a vida se prostituindo. Ela é salva por um misterioso homem usando uma mascara. Ele se identifica com o nome V ou codinome V.
Em tempo: a máscara do personagem V é inspirada no rosto de Guy Fawkes oposicionista do partido católico britânico que comandou um malsucedido ataque em cinco de novembro de 1605. O objetivo do atentado era explodir o parlamento inglês e foi conhecido por Conspiração da Pólvora. Fawkes foi condenado à morte.
Voltado para a Graphic Novel. V é um anarquista. Ele pretende se vingar de atrocidades que sofreu por parte do governo e articula ataques terroristas. Evey se torna aliada e aluna de V.
O filme V de Vingança (V For Vendetta, 2005), foi dirigido por James McTeigue com roteiro e produção dos Irmãos Wachowski (criadores de Matrix). A adaptação para o cinema possui algumas diferenças. O filme mostra o personagem V (Hugo Weaving, o Sr. Smith de Matrix, aparece sempre de máscara) com habilidades quase de um super herói e com uma relação mais próxima de amante com Evey (em bela interpretação de Natalie Portman). Allan Moore, pai da história, não gostou.
No longa, uma multidão sai ás ruas usando a máscara de Guy Fawkes no dia 5 de novembro, após o discurso de mobilização de V na televisão. Durante o filme conhecemos um pouco da origem do misterioso V e suas motivações para o terrorismo.
Duas frases são o mote do filme: “O povo não deve temer seu governo. O governo é quem deve temer seu povo!” e “Atrás dessa máscara, há uma ideia. E ideias são à prova de bala”. Da primavera árabe às mobilizações no Brasil contra o aumento das tarifas de ônibus estas frases são repetidas de diversas formas.
A máscara de Guy Fawkes se tornou também o símbolo dos ativistas hackers conhecido como Anonymous. É difícil definir uma linha ideológica do Anonymous justamente porque diferentes grupos se apropriam do conceito.
A trilha sonora é versatil: músicas feitas especialmente para o filme por Dario Marianelli , além de “1812 Overture”, de Tchaikovsky e canções associadas a protestos como “BKAB”, de Ethan Stoller, em que foram adicionadas partes de discursos de Malcolm X e da feminista Gloria Steinem, e “Street Fighting Man”, dos Rolling Stones. Ouça a trilha aqui.
Quadrinhos, cinema, trilha sonora cativante, além da reflexão política são os ingredientes para fixar no imaginário popular os dizeres da Cospiração da Polvora: “Lembrai, lembrai-vos do cinco de novembro”. Parece que a cada protesto pelo mundo é difícil não lembrar as diversas referências do filme.
Alexandre de Melo é jornalista e gestor de mídias sociais da Força Sindical.
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