02 maio 2012 . 11:35
À primeira vista Singles parece apenas uma história de jovens casais. Olhando bem, percebemos sinais interessantes sobre a juventude de uma época.
FONTE: Carolina Maria Ruy
Vida de Solteiro, Singles
1992, EUA
Cameron Crowe
Com Bridget Fonda, Campbell Scott, Kyra Sedgwick, e Matt Dillon
Década de 1990, parece que foi ontem. Já vivemos outra era, mas aquele despojamento e irreverência ainda influenciam a música e a moda, em um sentido mais amplo, para além do vestuário.
Não é de estranhar. Para o bem e para o mal, modernidade, despojamento, irreverência, juventude e liberdade estão no DNA do estilo grunge demonstrado em Singles. Um estilo que se expandiu da pacata e fria cidade de Seatle, para o mundo.
Ajuda muito nesta argumentação resgatar a imagem do maior ícone daquele fugaz e marcante movimento, Kurt Cobain, vocalista da banda Nirvana.
A figura perturbada de Cobain deixa claro que o conjunto de adjetivos descritos, não se traduzem, necessariamente em alegria e descontração.
Muitas vezes, ainda mais quando pensamos no liberalismo econômico que dominou os anos de 1990, o ar de descaso com o mundo no estilo de vestir, falar e se portar, é forte sintoma da falta de perspectiva da juventude.
Smells like team spirit, sucesso que fez com que o Nirvana de Kurt Cobain estourasse nas paradas, sintetizava a alma daquela geração. A música baseou-se em uma referência ao cantor que dizia: Kurt cheira ao espírito adolescente (Kurt Smells like team spirit) e foi considerada um hino da politicamente apática da Geração X. No entanto a banda cresceu desconfortável com o sucesso e teve um desfecho trágico.
O grunge não foi o primeiro movimento a escancarar uma rebeldia descrente da política e da organização social. Ele é herdeiro do punk, da década de 1970. Só que mais ameno e, mesmo considerando o suicídio de Cobain em 1994, de um modo geral, é menos destrutivo.
O filme mostra de forma bem humorada as alegrias e os riscos de uma liberdade, já velha conhecida, conquistada em gerações anteriores.
Vemos também pipocar novas preocupações como a sustentabilidade, que surge tênue como fumaça no discurso da protagonista. E onde há fumaça…
Isso tudo em uma trama simples, protagonizada por jovens na casa dos 20 e 30 anos com seus dilemas clássicos: um bom emprego, um lugar para morar e um amor.
Aos olhos de hoje chama a atenção a falta do telefone celular e da internet, que fariam toda a diferença, mas que ainda não eram disseminados.
A fita cassete em secretarias eletrônicas e a hegemonia do telefone fixo na vida de jovens modernos viviam seus últimos suspiros.
Singles ganha por tratar de temas delicados, com humor, leveza e inteligência. Com a distância do tempo ganhou também a graça da nostalgia. É daqueles filmes que nos faz pensar em quando tudo isso começou…
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