Wall Street, Poder e Cobiça

02 maio 2012 . 17:15

1987, EUA Oliver Stone

FONTE: Carolina Maria Ruy

wall

“A crise demonstra que também no sistema bancário é preciso ser ético. Não é só o cidadão comum que tem que ser ético”. No fervor da maior crise financeira dos Estados Unidos desde os anos de 1980, e quiçá, desde 1929, esta frase do presidente Lula na cúpula da ONU, em Nova Iorque (setembro de 2008) foi propagada nos principais tablóides de economia e política do Brasil e tratada com atenção pela imprensa estadunidense. Para o New York Times o discurso de Lula refletiu o tom do encontro.
Ética no sistema financeiro? É disso que trata o filme Wall Street, de Oliver Stone, 1987. Ou, para ser mais precisa, o filme trata, com ironia, deste ponto de interrogação. A trama foi inspirada na história real do especulador Michael Milken, que terminou preso depois que a Securities & Exchange Commission (SEC), gigante do mercado acionário norte americano, descobriu que ele usava uma rede secreta e manipulava informações para negociar suas ações na bolsa. O contexto de sua época estava favorável aos especuladores: por volta de 1985, o mercado financeiro dos Estados Unidos viveu sua época de maior alta. Com grande movimentação e elevada taxa de especulação, a bolsa entrou num grande colapso em outubro de 1987, acarretando uma enorme crise no mercado.

Wall Street mostra o lado dos que ganham com a crise econômica, o cinismo dos grandes especuladores e o deslumbramento de sua corte de “yuppies” recém enriquecidos jogando na bolsa com dinheiro alheio. Reflete, assim, o “trabalho” e a vida desses rapazes cujo consumismo descarado, imprimiu também uma marca forte no modo de ser de muita gente em nossos dias.

A história gira em torno do corretor da bolsa de Nova Iorque, Bud Fox (Charlie Sheen), admirador do bilionário Gordon Gekko (Michael Douglas), que tem como objetivo na vida, ganhar muito dinheiro, dinheiro como ele nunca viu na vida, seguindo assim o exemplo do seu mestre.

Buddy é um discípulo dedicado, obstinado e bem vestido, como manda o figurino dos “yuppies” (de yup: young urban profesional) que proliferaram na década de 1980. Ele aproxima-se de Gordon Gekko e descobre os caminhos ilícitos para a riqueza fácil. Sua fórmula de enriquecer não se baseia no lucro sobre a venda de produtos, mas na valorização e na taxa de juros de ações de empresas na bolsa de valores. Lógica que tira da jogada o processo produtivo e, conseqüentemente, a necessidade do trabalhador. Para isso ele conta com quem tiver disposto a lhe ajudar na manipulação das informações sobre ações da bolsa.

Em contraposição, seu pai, Carl Fox (Martin Sheen), um líder sindical, faz o discurso oposto, enaltecendo o trabalho produtivo e a união entre os trabalhadores. Mesmo com as perspectivas deslumbrantes oferecidas pela fortuna ambicionada pelo garoto, Carl, o pai, não se deixa enganar, e se recusa a participar de seus jogos financeiros. Neste emaranhado de interesses e ideologias a história se desenrola cheia de diálogos densos e complicados. É um filme para se ler, para se estudar, para se debruçar sobre ele.

Em certo momento, quando perguntado sobre quanto dinheiro é o bastante, Gekko diz: “Não é uma questão de ser o bastante. É como um jogo. O dinheiro em si não se faz, é simplesmente transferido. Como mágica. (…) Eu não crio nada. Eu sou o proprietário”.

Nesta fala ele mostra a lógica da corrupção no sistema financeiro ultraliberal trazendo, a questão da ética reclamada pelo presidente Lula. As contravenções do sistema financeiro são sofisticadas e de difícil compreensão. O ultraliberalismo de Gekko, como o que causou a atual crise norte americana, passa ao largo de qualquer regra moral. O bilionário atual não é mais o dono da fábrica, mas o poderoso homem de negócios, que apenas calcula e não produz nada. Reparem bem nas palavras de Gordon Gekko: “O dinheiro em si não se faz, é simplesmente transferido. Eu não crio nada”.

Em meio à sua busca desesperada por sucesso, Bud Fox percebe a má fé de Gekko ao “calcular” sua lucratividade sobre o fechamento da fábrica onde seu pai trabalha, levando à demissão dos funcionários. “O principal sobre o dinheiro, Bud, é que ele faz com que você faça coisas que não quer fazer”, aconselha Sr Mannheim, seu chefe na Bolsa. Buddy cai em si e o conflito de valores e de interesses se estabelece, levando a um desfecho em que a moral não permite a continuação da desonestidade. Gordon Gekko, o pirata corporativo, se dá mal. Mas na realidade sua filosofia veio a dominar as práticas empresariais.

Há vinte anos atrás, em 1988, uma matéria sobre os seis meses pós crash de 19 de outubro de 1987, publicada na Business Week, trazia a seguinte avaliação de um membro da comissão de Seguro e Câmbio do Congresso americano: “19 de outubro foi produto de problemas técnicos”. Contudo, advertiu a revista, “numa situação turbulenta, essa história pode repetir-se”.

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