Carlos Andreu Ortiz

30 jul 2012 . 14:22


No aniversário de 15 anos do Sindicato Nacional dos Aposentados reveja o depoimento do Carlos Andreu Ortiz.

Ortiz é metalúrgico, sindicalista, foi Secretário do Trabalho e Emprego do Estado de São Paulo, e hoje é presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados.

Assembleia na Rua do Carmo

Depoimento Carlos Andreu Ortiz

Infância
 
Meu nome é Carlos Andreu Ortiz. Eu nasci no dia 25 de outubro de 1952, Pacaembu, estado de São Paulo. Meu pai, já falecido, é Eugênio Andreu Munhoz, e minha mãe, Amélia Ortiz Lopes. “Andreu” é sobrenome do meu pai: Eugênio Andreu Munhoz. É que é uma salada, perdemos lá os documentos, então uns são “Andreu”, outro é “Andreo”, mas o meu pai é Andreu Munhoz; e minha mãe, Amélia Ortiz Lopes. Então, o meu último sobrenome é da minha mãe. Os europeus, principalmente os Município de Pacaembu, SP. Foto: Lucas Souzaespanhóis, eles têm por hábito o último sobrenome ser da mãe, porque eles dizem que a mãe tem como provar que o filho é dela e o pai, não. Então o último sobrenome é da mãe; “Ortiz”. Eu sou o caçula de uma família de nove irmãos. Somos nove irmãos. Hoje somos em seis, porque tem três falecidos, mas uma família grande, oito irmãos e uma irmã.

Eu não posso nem dizer, se eu tive infância. Porque eu sou de uma família pobre. A minha mãe faleceu muito cedo, quando eu tinha dois anos e meio de idade. Eu com dois e meio; outro com quatro; outro com seis; outro com oito; outro com dez; outro com 12; outro com 16; e a minha irmã mais velha, com 17 para 18 anos. Com o falecimento da minha mãe, nós viemos do interior de São Paulo para cá [SP]. Aquela vida difícil. Meu pai, viúvo. Era aquele negócio: os irmãos mais velhos trabalhavam para ajudar no sustento de casa, ninguém tinha profissão, e os mais novos ajudavam o pai a cuidar da casa. Tinha pouco tempo para brincar. Com oito anos de idade, comecei a trabalhar. Eu fazia escova de enceradeira, que naquela época se usavam aquelas escovas, e trançava aqueles sapatos “trancê”. Uma parte do dia era a escola, tinha que fazer os serviços, os sapatos, as escovas, e depois sobrava pouco tempo para brincar. Foi uma infância difícil, mas feliz. Acho que aproveitei bem o meu tempo de garoto jogando bola, brincando, como todos os garotos, mas foi uma infância muito difícil, muito pobre.

Formação

Eu não tinha tempo para estudar, mas eu aproveitava bem o meu tempo de escola. Tinha aqueles incentivos escolares e, todo ano, eu era o aluno premiado, porque minhas notas do primário nunca foram menores que 9.7, 9.8, 10. Quando eu tirei o meu certificado, o meu diploma de quarto ano, tirei com a nota máxima, que foi dez. Eu aproveitava bem quando eu estava na sala de aula. Depois que eu fiz o primário , comecei a fazer o ginásio, depois entrei no Senai e comecei a estudar uma profissão. Foi também o máximo que eu consegui fazer, fazer a oitava série. Não cheguei a terminar o colégio.

Fui fazer Senai onde me formei ferramenteiro, mas eu estudava. O meu pai falava que eu estudava até dormindo, que durante noite eu ficava falando, “variando” e estava estudando. Eu sempre fui bem na escola.

Quem teve a oportunidade de estudar, dos irmãos, foram praticamente os três mais novos. O resto fez alguma coisa. Estudaram uma profissão, mas já à noite.
Com 12 anos, estudava ainda. Meio período eu trabalhava em uma sapataria, em uma fábrica de chinelos e de calçados. Quando eu fiz 14 anos, antes de entrar no Senai, comecei a trabalhar em uma tecelagem. E o dono dessa tecelagem me falou que eu era um garoto muito esperto, queria que eu fizesse um curso de tecelão, só que esse curso era só com 15 anos completos. Eu, por minha conta, fui para o Senai, me inscrevi mesmo sabendo que era difícil, porque você tinha que ter uma empresa por trás e eu não tinha. Participei do concurso, fui um dos primeiros colocados. Entrei no Senai por minha conta e quando eu fiz os primeiros cinco meses, não tinha empresa.

Arrumei a empresa por minha conta mesmo, que começou a me pagar o Senai. Então, a partir do segundo semestre, eu fiz o Senai por intermédio de uma empresa que se chamava Kato Companhia Limitada, uma ferramentaria. Na realidade, como eu entrei lá pelo Senai, eu praticamente era um auxiliar de ferramentaria, um auxiliar de ferramenteiro. O tempo que eu ficava dentro da empresa, eu ficava auxiliando os ferramenteiros. 

Fato marcante

Nessa primeira empresa que trabalhei, na Kato, mesmo sendo novo, sendo moleque, eu era praticamente um líder do pessoal mais velho. Eu que movimentava, que agitava a turma para reivindicar melhores salários, melhores condições de trabalho. Era uma empresa japonesa e se chegou ao ridículo, numa época, de colocar chave nos banheiros. Para você ir ao banheiro, tinha que passar no almoxarifado e pegar a chave, picar o cartão. Você picava o cartãozinho, ia ao banheiro, quando você voltava, entregava a chave, e o cara picava esse cartão novamente, e você assinava na frente para saber quantos minutos você ficou no banheiro. Todo mundo reclamava. Reclamava e não tinha coragem de fazer nada. Eu falei: “Só vejo uma forma de a gente acabar com isso. A gente pegar o maior número de trabalhadores possíveis e fazermos uma aposta.” Era no dinheiro da época como se fosse 50 reais hoje. Todo mundo assinou e deu 50 reais. E aí nós apostamos que, no final de 15 dias, a pessoa que conseguisse ficar mais tempo no banheiro ganhava o prêmio. Começou uma disputa para ver quem ficava mais tempo no banheiro. Um ia lá, ficava 45 minutos; o outro tinha que ficar 46 minutos; outro ficava 47, uma hora. Chegou-se ao ponto de uma pessoa ficar mais de uma hora e meia no banheiro. Aí os japoneses viram que não estava dando certo o negócio da chave e acabaram tirando a chave do banheiro. A pessoa que ganhou o prêmio ficou, acho que, uma hora e 33 minutos no banheiro. Esse era o tipo de coisa que eu inventava para poder me contrapor à vontade do japonês, que era o dono da empresa. Naquela época, eu nem sabia o que era agitador, o que era subversivo, mas ele me classificava como subversivo, dizia que podia mandar me prender, mas eu fazia aquilo reivindicando melhores condições de trabalho e também melhores salários. Eu fiz o Senai entre os 15 e os 18 anos. De 68 a 71. Quando saí de lá, estava praticamente com 19 anos. 

Depois de muitos anos, na minha vida de militante, de oposição, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, eu ia na porta dessa empresa, encontrava aquelas pessoas já casadas, com filhos, com netos. Aqueles jovens, na época, ainda tinham aquela admiração, por mim, vinham me cumprimentar. Recentemente, uma das pessoas de lá, o Espanhol, que estava nessa empresa ainda, precisou conversar comigo para sair de lá. Um dos diretores do sindicato teve que levá-lo para conversar comigo, para eu dizer que era o melhor que ele tinha a fazer, senão ia acabar morrendo lá. Não iam mandá-lo embora porque ele ainda tinha um período do regime antes do Fundo de Garantia, da lei velha, e ele queria que a empresa indenizasse aqueles anos da lei velha. A Kato dizia que não iria indenizar. Com isso, ele não pedia as contas e o cara não o mandava embora. Fizeram um acordo, e parece que ele estava adivinhando; depois de alguns meses, ele veio a falecer. Foi uma coisa marcante que mesmo depois de 30, 30 e poucos anos, as pessoas que lá trabalhavam na época comigo, que ficaram, ainda reconheciam todo o trabalho que eu fiz enquanto garoto no Senai dentro daquela empresa. Foi um negócio muito legal.
 

Trajetória profissional

Fábrica da Ford no Ipiranga, SPQuando me mandaram embora dessa empresa, em 1971, entrei em uma outra empresa que ficava praticamente em frente, que era uma empresa de torno mecânico. Entrei lá e comecei, aquele meu jeito de liderança, a conversar com o pessoal sempre buscando a aquisição de melhores condições de trabalho, falando da questão de salário, aquela coisa toda. Em pouco tempo, essa empresa, talvez para tentar me prender, mesmo eu sendo garoto, com 20 anos de idade, resolveu me colocar para tomar conta de uma seção. Colocaram-me como encarregado no setor de montagem de máquinas. Eu pensava em progredir um pouco profissionalmente. Tinha saído de uma empresa, que me mandou embora, porque eu queria que eles me registrassem como ferramenteiro e eles não me registravam. Entrei nessa outra empresa na área de ajustagem. Fiquei por uns dois anos tentando me estabilizar, buscando a minha ascensão profissional, reivindicando cada vez melhores salários pelo o que eu fazia, e também para aquelas pessoas que trabalhavam diretamente comigo, que eu valorizava muito. Eu ia até o dono da empresa e dizia: “Essa pessoa aprendeu aqui, ela merece”. Até que chegou um ponto em que eu vi que não dava, não era aquilo. Resolvi procurar um outro emprego e saí de lá. A empresa também saiu de São Paulo e foi para Itaquaquecetuba, onde o movimento sindical era mais fraco. Ela foi para lá, mais ou menos, em 76, 77. Fiquei até agosto de 79, quando saí e entrei na Ford Ipiranga. 
 

Trajetória sindical

Fonte: iiepRetomei o trabalho, voltei a me encontrar com o pessoal do Movimento de Oposição Operária de São Paulo, que era o famoso MOOSP, na época, e comecei a fazer um trabalho dentro da Ford, e na época não tinha comissão de fábrica. Eu, em 79, não tinha passado nem na experiência ainda, eu entrei no dia 13 de agosto, e o Movimento de Oposição Operária puxou uma greve em outubro de 79, e eu participei da greve, fiz lá os 11 dias de greve. Eu saía da porta da Ford comandando lá seiscentas, setecentas pessoas em piquete, porque eu tinha botado na cabeça o seguinte: “Olha, eu não nasci aqui dentro, não vou morrer aqui dentro”. Uma pessoa que vai para uma greve em uma empresa, em uma montadora grande, que não tinha tradição nenhuma, não tinha organização nenhuma, então eu achava que quando eu voltasse do movimento sindical, do movimento de greve, eu ia ser mandado embora. Então entrei de cabeça, fiz os 11 dias de greve, participava o Neto, o Carlúcio, o Vitor Gianotti, aquele pessoal que eram os dirigentes do Moosp, do Movimento de Operários de São Paulo, mas depois acabou a greve, voltei a trabalhar e não me mandaram embora.

Continuei na Ford e ajudei a organizar a comissão de fábrica em 83. Até por uma questão política, e a pedido também do próprio Movimento de Oposição, eu não saí na primeira direção, saí só em 85. Aí eu fui fazer parte da comissão de fábrica, onde atuei por dez anos. Então sempre tive uma atuação realmente preocupada em organizar o local de trabalho, organizar os trabalhadores, mas nunca tive pretensões de disputar aquela briga para ser parte de chapa, sair enquanto diretor de uma chapa ou de outra. Eu preferia mais fazer um trabalho voltado à questão da organização no local de trabalho, voltado a estar realmente representando os trabalhadores dentro da fábrica do que sair como diretor. Quer dizer, na realidade eu me tornei diretor do sindicato em 97, praticamente quando já estava me aposentando, mas eu saí por estar mais pro lado do sindicato aqui de metalúrgicos do que para a oposição ou para a CUT que nós criamos em 83, que eu ajudei a criar também.

Na realidade, o Movimento de Oposição Operária, a Oposição aqui em São Paulo, se encontrava muito na Ford Ipiranga e na Zona Sul. Participei das eleições, quando foi o Valdemar Rossi, se não me falha a memória, em 81. Inclusive não ganhamos. Dizem que ganhamos, mas não levamos, porque teve duas chapas de oposição: o Valdemar Rossi e o Aurélio Peres, que era do Partidão. Em 84, eu fiz todo um trabalho para que não saíssem duas chapas de Oposição, porque já se falava em criar a alternativa sindical, onde alguns companheiros, como o Lúcio Belantani, encabeçavam essa idéia. O hoje deputado estadual Zico, do PT, também foi muito criticado por defender essa idéia da articulação. Eu fiz todo um trabalho para que saísse uma chapa única, que em 84, foi encabeçada pelo Hélio Bombardi. Mas já com o risco do Lúcio poder ganhar a convenção. Nós fizemos um trabalho nos bastidores, de se, por ventura, o Lúcio ganhasse a convenção, a maior parte do pessoal do Movimento Operário de Oposição sairia da chapa. Eu fiz um trabalho dentro da Ford para que o Lúcio não encabeçasse a chapa e saísse o Hélio Bombardi. Em 87, já estava mais voltado para o pessoal da Articulação na CUT. Saímos com a chapa de oposição encabeçada pelo Lúcio Belantani. Mas uma ala da CUT resolveu apoiar, em 87, o Carlúcio. Aquilo foi fazendo com que víssemos o seguinte: na realidade, o pessoal da CUT, principalmente o pessoal da Articulação, não tinha muito interesse que nós ganhássemos o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Porque o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, que era o maior sindicato do Brasil, enquanto metalúrgicos, iria sair das mãos do ABC e passaria para São Paulo. Em 87, isso ficou claro quando uma boa ala da Articulação nos apoiava, mas tinha, por baixo do pano também uma outra ala apoiando, a chapa três. Nós não ganhamos a eleição. Dizem, também, que ganhamos nos votos, mas não levamos. Ganhar uma coisa, levar é outra. O que causou estranheza foi que no segundo turno das eleições, quando ficou só a chapa dois e a chapa um, que era encabeçada pelo Medeiros, os votos da chapa três, da CUT, não se reverteram para a chapa dois. Acabaram indo para a chapa um. Se foi manipulado ou não, não sabemos, mas não se reverteu. De 87 para frente, nós resolvemos continuar na CUT, mas já não fazer tanta oposição quanto nós fazíamos ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Com a criação da Força [Sindical], chamaram o Lúcio, que era o coordenador da Comissão, para fazer parte da direção. Ele foi para a Força e nós começamos um trabalho de reverter a posição de dentro das fábricas que tinha como tradição ser oposição ao Sindicato dos Metalúrgicos, a se tornar mais alinhada com as propostas da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Não participamos das eleições de 90, onde, se não me engano, foi encabeçado pelo Chico Gordo, e em 94, teve uma chapa encabeçado pelo Mauro, que era uma pessoa da Comissão de Fábrica da Ford, mas nós não participamos. Pelo contrário, o Lúcio Belantani saiu na chapa do sindicato. Em 90, nós não saímos em nenhuma das chapas, mas já em 93, 94, o Lúcio saiu do lado do sindicato, e o Mauro, que era da Comissão de Fábrica, saiu encabeçando a chapa da CUT aqui em São Paulo.

Luiz Antonio de Medeiros, no centro, sentado, na instalação da Comissão de Fábrica na Ford. Foto: arquivoComissão de fábrica da Ford, década de 1980. Ortiz é o primeiro agachado, à esquerda. Foto: arquivo.

Eu era diretor do sindicato, porque fiquei na comissão de fábrica até 95. Nesse ano, estava tendo um problema político no sindicato com o Lúcio Belantani, que era diretor do sindicato e era também o presidente da CNTM – Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos da Força. Eu fui chamado para trabalhar no sindicato como assessor, para cuidar da Ford enquanto assessor do sindicato. Então, eu fui, em junho de 95, para o sindicato como assessor. Na chapa de 97, eu saí diretor do sindicato. Acho que foi a primeira vez que o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo ganhou uma eleição dentro da Ford, porque em todas as eleições que tinham, o Sindicato dos Metalúrgicos perdia na Ford, e perdia feio. Era meio assim: nós tínhamos mil e cem sócios; eram mil e cinqüenta para a chapa de oposição; e 50 votos para a chapa do sindicato. Quando eu saí como diretor, não teve chapa de oposição. Foi o primeiro ano em que não teve chapa de oposição, mas foi o primeiro ano que o sindicato ganhou. Em 2000, houve a discussão do fechamento da Ford. Eu já era diretor do sindicato, que estava junto com a Comissão de Fábrica, discutindo o fechamento. Acho que foi um aprendizado muito grande porque, na época, nós tínhamos um acordo assinado com a empresa que nos dava estabilidade. 

Greves

Nós fizemos uma greve quando surgiu a notícia que a Ford estaria criando uma empresa na Bahia. Naquela época saiu na imprensa que a empresa que seria fechada seria a Ford Ipiranga, que estaria indo para a Bahia. Aí, nós fizemos uma greve, na qual conseguimos estabilidade. Quando veio a notícia da transferência da Ford Ipiranga para São Bernardo. Inclusive em uma assembléia que eu fiz na porta da Ford, eu coloquei para o pessoal: “Nós temos estabilidade, vocês estão garantidos. Todos vocês estão garantidos. O emprego de vocês está garantido lá em São Bernardo”. Mas lá em São Bernardo também já estava um problema sério de excedente. Em torno de quinhentos excedentes. A empresa dizia que com a ida da Ford Ipiranga para lá, esse número de excedentes subiria para mil e duzentas pessoas; em torno disso. Coloquei em votação o que o pessoal queria, se o pessoal queria discutir a questão do fechamento da fábrica em São Bernardo com o sindicato, que eles diziam que era combativo, que era o sindicato do ABC; ou eles queriam discutir o fechamento da fábrica aqui no Ipiranga, com o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo sob o meu comando, porque eu era diretor do sindicato. Só tiveram dois votos contra. O pessoal preferiu discutir a questão do fechamento da Ford aqui em São Paulo. Foram vários meses de discussão. Nós fizemos um acordo de voluntariado, de um pacote de benefícios que, na época, era 1,4 salário por ano, que é, mais ou menos, o que São Bernardo fez hoje com a Volkswagen. Naquela época nós já negociamos 1,4 salário. Você tinha pessoas com 30 anos de casa, 25 anos de casa, supervisores, gerentes que falaram: “Não, não quero ir para lá, não. Quero pegar o pacote, quero ir embora”. Porque um cara que tinha 25 anos de casa pegava, além de todos os direitos, mais 35 salários. Conseguimos fazer um bom acordo. O único pessoal que realmente não foi para São Bernardo, além daquelas pessoas que acharam melhor pegar o pacote aqui em São Paulo e sair, foi o pessoal da guarda. Esse pessoal já sabia desde o início, nunca foram enganados, que realmente não tinha lugar para eles em São Bernardo porque a empresa não ia criar nenhum portão a mais para eles ficarem lá na guarda. Eles sabiam que ou aderiam ao pacote, ou no final, no fechamento, seriam dispensados com o mesmo pacote que as pessoas que foram voluntárias a sair. Mas não foi com muito trauma, que foi discutido o fechamento da empresa.

Formação sindical

Acho que o primeiro curso que fiz pelo DIEESE, foi em 1981. Naquela época, as montadoras já falavam em just in time, aquelas coisas todas. Na época, a gente trabalhava muito com a FASE, que era uma instituição que dava apoio ao Movimento de Oposição Operária. Eles contratavam, pediam para o pessoal do DIEESE, e a gente ia para esses recantos de freiras em Itapecerica da Serra. Fazíamos um encontro. Saíamos na sexta-feira, o sábado o dia inteiro e no domingo, voltávamos por volta da hora do almoço. Almoçava e vinha embora. Comecei a participar, a fazer cursos administrados pelos técnicos do DIEESE, mesmo não estando no sindicato, não estando na direção do sindicato.

A minha formação, minha função política, foi dada na época da ditadura, onde realmente o movimento sindical, principalmente o Movimento de Oposição Operária te dava uma militância para você poder fazer oposição à ditadura. E também, o movimento sindical, a questão de oposição, no caso, aqui em São Paulo, o Joaquinzão, que era considerado pelego, essa coisa toda que tinha sido colocada pelo interventor. Então a gente fazia cursos de formação política no MOOSP, no Movimento de Oposição Operária, e uma formação sindical praticamente com pessoas, com técnicos do DIEESE, esse pessoal da FASE, e outros órgãos que haviam: tanto órgãos financiados internacionalmente para dar apoio a qualquer movimento de oposição, não só em São Paulo, mas no Brasil todo, a direções pelegas de movimentos sindicais.

Assessoria/Negociação

Mesmo não fazendo parte de direção sindical, como eu estava na direção de fábrica, nós tínhamos um relacionamento muito próximo com os técnicos do DIEESE. Os técnicos que eram da subseção, por exemplo, lá do Sindicato dos Metalúrgicos, que vinham nos assessorar nas negociações com a Ford. O pessoal da fábrica, quando vi os índices do DIEESE, falava assim: “Mas como é que pode o índice do DIEESE falar que deu ‘x’ só de inflação. Vai lá no supermercado, vai comprar isso, vai comprar aquilo. A inflação é muito mais alta”. Eles não entendiam a metodologia que era aplicada, que era usada pelo DIEESE. Na época, quando o Lúcio já estava na Força Sindical, de 91 para cá, o que nós fazíamos? Com autorização da empresa, pegávamos, lotávamos um ônibus de ativistas, pessoas da fábrica, e íamos fazer uma visita ao DIEESE. Trazíamos um ônibus de trabalhadores para o DIEESE e os técnicos nos explicarem qual a metodologia, como que era feito o cálculo para checar a inflação. Era uma forma que nós tínhamos de abaixar um pouco a pressão dos trabalhadores para cima da gente, que era da comissão de fábrica, em cima da questão dos nossos reajustes, dos nossos aumentos. Montávamos uma pauta de reivindicação pedindo o índice do DIEESE mais 5% de aumento real na época. Aí o pessoal: “Mas esse índice é furado, é não sei o quê…” Então os caras vinham com coisa absurda de querer pedir um índice que você não tinha parâmetro legal nenhum para estar dizendo o porquê você estava pedindo aquele índice de aumento.

Quando eu fui para a direção do sindicato como assessor, em 95 eu levei essa prática. Hoje, por exemplo, os cursos de formação destinados ao nosso sindicato, são realizados em Mogi das Cruzes. Uma parte do curso era direcionada a quem vinha visitar o DIEESE. Delegados sindicais, ativistas vinham para cá – a mesma coisa que o pessoal da Ford fazia – vinham conhecer o DIEESE, saber o que era o DIEESE, como era a metodologia usada nos cálculos.

Trajetória no DIEESE

O Juruna, que era o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, foi indicado para ser o nosso representante no DIEESE. Ele foi presidente do DIEESE e quandoPaulinho da Força, Ortiz e Juruna em assembleia na Ford. ele saiu, a diretoria me indicou para substituí-lo. Eu vim em 2003, quando a Mônica era presidente. Assumi como secretário. Alguns anos depois me tornei presidente do DIEESE. Acho que eu não estava preparado, com tudo aquilo que eu achei que eu conhecia, que eu sabia. Quando você começa a freqüentar, a participar das reuniões, de decisões, você vê que você não entende quase nada do que realmente é o DIEESE, o que o DIEESE faz, não só para o movimento sindical, mas para toda a sociedade brasileira, e hoje, até internacionalmente. Achei que eu não estava preparado, mas foi um desafio, um aprendizado. E aquela velha história: com esse grupo técnico que nós temos no DIEESE eu acho que quem realmente toca a instituição é a equipe técnica. Na realidade, o dirigente sindical é mais para realmente discutir, dar as coordenadas políticas, mas quem toca é a direção técnica, que hoje está muito bem nas mãos do Clemente, que estava também no passado nas mãos do Serginho. Quer dizer, quando o Serginho falou que ia sair, nós falamos: “E agora?” Mas, aí, acabou assumindo o Clemente e, realmente, para minha sorte, que tem ajudado bastante a fazer com que o DIEESE supere essa crise eterna que ele vive.

O DIEESE sempre teve um bom relacionamento com todos os governos que aí tiveram.

Nesse último governo, o governo Lula, por ser até um governo, na sua maior parte,de um pessoal que veio do movimento sindical, de pessoas que conhecem também a trajetória do DIEESE, conseguimos avançar muito e fazer várias parcerias com o governo, não só em nível federal, mas em nível estadual e em muitos municípios, prestando serviços sobre pesquisas, mas sempre voltado ao âmbito do trabalho. O DIEESE não presta nenhum tipo de assessoria que não seja voltada à pesquisa ou estudos relacionados ao mundo do trabalho.

Hoje você tem CUT, Força, CGT, CGTB, SDS, tem vários dirigentes de correntes diferentes, que conseguem se entender e sair com propostas de consenso, quando a discussão é feita dentro do DIEESE. E o grupo técnico também tem isso. Quando um técnico vem para o DIEESE, já tem que vir imbuído do espírito de que não adianta querer trazer para dentro do DIEESE o seu pensamento, a sua ideologia política partidária. Aqui o técnico, realmente é, entre aspas, proibido de falar em política partidária ou se filiar a um determinado partido ou ter alguma atuação política e partidária, porque ele está trabalhando com vários dirigentes sindicais, com várias correntes sindicais de diferentes correntes políticas e partidárias. Agora, isso não impede que a pessoa também tenha a sua opinião ou a sua ideologia. Dentro das discussões, deixamos isso de lado. É por isso que eu acho que o DIEESE deu certo, completou 50 anos e com certeza vai chegar nos cem. É uma instituição que não vai acabar nunca Tanto que foi o órgão escolhido para assessorar as centrais sindicais na mais recentemente discussão sobre o tema da nova estrutura sindical. Com todo aquele embaraçado de correntes políticas pensando de formas diferentes, o DIEESE consegue sempre trabalhar fazendo o consenso do movimento sindical neste tipo de discussão de difícil acordo.

Acredito que vamos ter que rediscutir essa questão da direção sindical. Acho que os dirigentes, os diretores do DIEESE, pelo menos, eu acho que o presidente, o vice-presidente, o secretário, terão que, talvez, dedicar, pelo menos dois, três dias, ou um, dois dias da semana para as funções realmente de presidente do DIEESE, para não sobrecarregar essa direção técnica. Porque a turma fala assim: "Quem manda no DIEESE é o movimento sindical”. Mas eles são técnicos, esse pessoal que acaba realmente fazendo todas as atribuições de direção do DIEESE. A nós, cabe tomar as decisões políticas. O cara fala: "Também, quando fui presidente, eu também não tinha tempo, pouco ia às reuniões semanais, mensais." Acho que nós temos que rediscutir essa questão da direção e discutir também a questão do custeio, do financiamento do DIEESE. O movimento sindical tem que discutir isso logo.

Todas as campanhas unificadas, sempre tinham o DIEESE junto com as centrais sindicais fazendo esse papel de intermediar a questão de divergências, muitas vezes de agir, de pensamento só. O DIEESE sempre conseguiu fazer esse papel muito bem. Fazer com que todas as opiniões e pensamentos das várias correntes sindicais dentro das centrais fossem respeitadas. Isso só veio se reafirmar na discussão mais recente com o governo, da questão da reforma da estrutura sindical. Mas o DIEESE já vem ao longo do tempo. Eu digo o seguinte: há 50 anos atrás, quando praticamente não tinha tantas tendências sindicais no país, mas as pessoas que realmente criaram o Departamento, parece que eles sabiam que lá na frente alguma coisa ia acontecer, porque quando você cria o DIEESE e fala que é um departamento intersindical, que você dá essa característica, não é de nenhuma corrente. Na época, devia ter somente a CGT aqui no Brasil; acho que não tinha nenhuma outra central que eu me lembre. Depois teve a Conclat, a criação da CUT, e começaram a surgir outras centrais. Acho que quando foram criadas novas centrais, o DIEESE se posicionou sempre independente, sempre neutro, não tendo nenhuma tendência. Isso fez com que ele crescesse dentro do movimento sindical, como um departamento autônomo, um órgão que realmente consegue representar todas as correntes sindicais desse país. 

Quando você conversa com o movimento sindical, uns dizem assim: "O que eu acho mais importante no DIEESE é a assessoria nas mesas de negociações”. Aí outro diz: "Não, as publicações dos anuários, dos livros”. Eu costumo dizer o seguinte: o mais importante que o DIEESE fez, que tem feito e continua fazendo para o movimento sindical é a questão da formação dos dirigentes. Não sei se é também porque eu fiz vários cursos, vários seminários promovidos pelo DIEESE, mas eu costumo dizer que os cursos que o DIEESE dá, de formação política, sindical, são tão bons… Se você fizer um levantamento no Brasil todo, se pegar todos os municípios, as capitais, e for olhar, por exemplo, quantos vereadores são oriundos do movimento sindical, que foram dirigentes sindicais, que foram diretores do DIEESE, que passaram, com certeza, por um, ou dois, ou vários cursos do DIEESE; se você pegar os deputados estaduais, a mesma coisa; se você pegar os deputados federais que são oriundos do movimento sindical, que participaram, que foram dirigentes… E aí, você vai, a prefeitos, aos governadores, senadores, e hoje nós temos até o presidente da República, que é um ex-dirigente sindical, foi também diretor do DIEESE, não foi presidente do DIEESE, mas fez parte da direção do DIEESE – é da minha época de comissão de fábrica; ele estava na presidência do sindicato de São Bernardo, também fez vários cursos pelo DIEESE… Então, eu destaco muito a questão da formação. Dessa formação que o DIEESE dá para o dirigente sindical. Hoje, muitos dos dirigentes sindicais acham que não precisam mais do DIEESE, não dão o valor necessário, o valor que o DIEESE realmente merece. Por que, antigamente, o que o cara fazia? Usava o DIEESE para assessoria técnica. A partir do momento que o DIEESE foi dando esses cursos de negociação, de PLR, de negociação para campanhas salariais, a discussão… Como o dirigente está se preparando para negociar com o patronal, para alguns dirigentes sindicais, começou a falar… O cara achou que sabe tudo, que ele é o “bam-bam-bam” e ele não tem tanta necessidade do DIEESE. Mas eu acho que é um equívoco, porque nós temos que cada vez mais nos aperfeiçoar e aprender. Os desafios são constantes, as situações mudam.
Tem coisas que eram comuns na minha época lá de Ford, na época de 84, 85 ou 90. Hoje as negociações se dão em outro nível, você tem que ter um conhecimento maior da questão da produtividade, do que a empresa produz, da questão do lucro, de quanto essa empresa vem faturando. São coisas que a pessoa tem que ter, e tem que ter um suporte técnico para estar cada vez se aperfeiçoando mais. Eu ressalto sempre isso. O DIEESE, durante todos esses anos se aperfeiçoou muito na questão da formação dos dirigentes sindicais. Eu acho que foi aí que realmente movimento sindical deu um salto de qualidade, realmente começou a aprender a negociar melhor.

Subseções do Dieese

Eu costumo contar um episódio que aconteceu comigo, por volta dos anos 90. Estava tendo uma reunião no sindicato e, se não me engano, o Sindicato dos Metalúrgicos naquela época não tinha mais a subseção do DIEESE lá dentro. E eu sei que estava lá o Medeiros, estava o Chicão de Guarulhos, estava o Magrão de Osasco, estavam para discutir a questão de abrir a subseção do DIEESE no sindicato. E aí eu fui lá por um outro motivo e o Medeiros falou: "Entra aqui . Me fala um negócio”. Aí ele perguntou, onde eu achava que o sindicato deveria se aperfeiçoar para fazer o enfrentamento com o empresariado na questão das negociações. Aí eu disse: "Olha, vocês têm que primeiramente analisar aquilo que vocês querem. Vocês querem continuar com essa política atrasada de cada vez mais vocês estarem investindo em caminhões de som cada vez mais potentes, mais pesados, para chegar na porta da fábrica e xingar o patrão, ‘Você é um filho-de-uma-boa-mãe!, que é isso, que é aquilo,’ ou vocês realmente começarem a investir em formação, a investir em assessoria técnica para estar cada vez assessorado e aperfeiçoando… ensinando os dirigentes a negociar com o patronato. Porque para vocês é fácil, vocês vão lá na porta, xingam, falam um monte de asneiras e de besteira, viram as costas e vão embora. O trabalhador fica lá dentro arcando com todas as conseqüências”. Lembro que o Chicão, de Guarulhos, disse: ”Você é de que sindicato, companheiro? Você é diretor de que sindicato?”. Eu falei: "Eu não sou diretor de sindicato nenhum, sou só da comissão de fábrica da Ford Ipiranga". E foi naquela reunião que eles resolveram reativar, reabrir a subseção do DIEESE. Logo em seguida, foi Osasco, que reabriu a subseção. Acho que o Medeiros, aquele pessoal que estava lá, entenderam que tinha que se voltar a investir na questão da assessoria técnica, da formação do dirigente, para estar cada vez mais bem preparado para negociar nas empresas.

Importância do DIEESE

O DIEESE é reconhecido nacionalmente e internacionalmente como um órgão fundamental na questão de pesquisa, assessoria técnica para o movimento sindical, Se você perguntar sobre o DIEESE para qualquer pessoa, ela diz: "O DIEESE é muito importante, o DIEESE é isso, o DIEESE é aquilo." Mas o que eu costumo dizer é o seguinte: se você fizer uma relação entre quantos sindicatos existem no Brasil – dizem em torno de uns 15 mil; vamos tirar os mais pelegos dos pelegos, porque tem sindicato que é sindicato de cartório; mas, vamos falar de dez mil, cinco mil sindicatos – você pega essa relação de sindicatos, quantos sindicatos são filiados ao DIEESE? Nós saímos, no ano passado, com uma campanha de sindicalização, melhoramos bastante, onde nós tínhamos, mais ou menos, 436 ou 466 sindicatos filiados ao DIEESE. Hoje aumentamos bem. Eu acho que esse número é muito pequeno em relação ao número de sindicatos que existem nesse país. A primeira dor de barriga que dá nas finanças de um sindicato, o que ele pensa: "Ah, vamos cortar a mensalidade do DIEESE”. O cara nunca pensa em cortar algumas mordomias que muitas vezes o presidente tem, que o tesoureiro tem, que os diretores têm. Eles pensam sempre em cortar a mensalidade do DIEESE. Depois voltam, se filiam novamente, mas isso é uma coisa que a gente vê.

O DIEESE, quando foi criado era totalmente financiado pelo movimento sindical; e hoje a receita sindical do DIEESE, ou seja, aquela que vem do movimento sindical, deve estar aí em torno de 70%, mas quando nós começamos a fazer, ela girava em torno de 50%. Quer dizer, 50% eram financiados pelo movimento sindical e 50% eram pelas parcerias que DIEESE fez ou faz com governos municipais, estaduais e federais. São trabalhos que o DIEESE presta para poder fechar a folha de pagamento dos seus funcionários. Por exemplo, o DIEESE fez 50 anos e, até hoje, não tem uma sede própria; o que ele tem são os equipamentos, os computadores, e o ser humano, os técnicos, os que trabalham, os colaboradores que trabalham aqui no DIEESE. Acho que o movimento sindical tem que dar uma sacudida e discutir a questão do financiamento do DIEESE. O movimento sindical e as centrais sindicais têm que discutir isso: qual é o DIEESE que o movimento sindical quer? Quer um DIEESE realmente atuante, voltado à assessoria, à pesquisa, voltado à questão de formação dos dirigentes sindicais, voltado para aquilo para o qual ele foi criado? Quando se criou o DIEESE, a idéia era de ter uma faculdade do trabalhador, era simplesmente um departamento, e hoje estamos discutindo a possibilidade de criar a faculdade DIEESE. Estamos discutindo com o movimento sindical se realmente ele acha importante criar essa faculdade do trabalhador. Eu acho que temos que discutir a questão do financiamento do DIEESE. O sindicato, por exemplo, independentemente dele ser sócio ou não, deveria destinar parte, um percentual do imposto sindical , para pagar a mensalidade do DIEESE. Hoje muitos sindicatos não usam mais o dinheiro do imposto sindical, outros nem cobram, então essa relação está muito ultrapassada, nós temos que discutir, como deveria ser essa contribuição. Sei lá, uma mensalidade simbólica, igual e o restante será pago por serviços prestados, serviços terceirizados de assessoria, serviços de formação. Também se não for feito bem pensado, pode quebrar, porque hoje você pega sindicatos grandes, por exemplo, que nem o sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, que tem uma base grande, os comerciários, alguns sindicatos aí que são sindicatos que pagam uma mensalidade mais alta, quer dizer, a partir do momento que você tira essa mensalidade e faz uma mensalidade simbólica, igual para todo mundo, e cada sindicato pague pelos serviços que o DIEESE preste, até você não fazer essa transação, pode também piorar a situação. Mas eu acho que as centrais sindicais têm que discutir isso. Eu acho que o DIEESE hoje, se tornou um órgão de utilidade pública. Todo mundo nesse país usa os dados do DIEESE. Você pega governador, deputados, vai falar: "O cálculo do DIEESE, os estudos do DIEESE…”, porque todo mundo usa. Então, acho que na discussão da reforma da estrutura sindical, também poderia se discutir a questão do financiamento do DIEESE, desse fundo que se quer criar, talvez uma parte pudesse vir também para, para manutenção do DIEESE. Acho que as centrais sindicais têm que, o mais rápido possível, discutir essa questão de qual é o DIEESE que eles querem, para os próximos 50 anos, e a forma de custeio, de sustentação do DIEESE para os próximos anos. O que não dá é ficar aí todo ano dependendo de projetos, dependendo de parcerias, para poder fechar as contas no final do ano.

No ano passado [2005], nós fizemos uma discussão sobre o financiamento do DIEESE. Inclusive, se cogitou criar o "sócio amigo do DIEESE”. Porque hoje os dados do DIEESE se encontram à disposição de praticamente todo mundo, através de seu sítio na internet. Eu acho que nada mais justo do que realmente se fazer uma discussão de como essas pessoas poderiam se associar, contribuir para o DIEESE, para que eles pudessem receber regularmente essas publicações. Hoje nem todas as publicações são públicas, mas a pessoa por intermédio de outro acaba tendo acesso. Eu costumo dizer, por exemplo, tem sindicatos que são filiados ao DIEESE, que têm acesso às informações e acabam repassando para outra entidade. Mesmo as centrais sindicais que têm acesso às informações e acabam passando para os seus sindicatos filiados. Então eu acho que realmente deveria se criar, se pensar em alguma coisa nesse sentido. Como eu digo, se o DIEESE já foi reconhecido como um órgão de utilidade pública, eu acho que DIEESE tem tudo para ser uma OSCIP, alguma coisa desse tipo, é algo que poderia se discutir. E eu falei isso também nos 50 anos, falei isso inclusive lá em Brasília – por que o DIEESE não recebe recursos como outras instituições que têm verbas destinadas pelo orçamento, por parte do governo federal, que o DIEESE continue fazendo essas pesquisas voltadas ao mundo do trabalho, à questão de salário, de emprego, de custo de vida. Acho que por que não , já que esses dados também estão abertos para essas outras pessoas e instituições..Quer dizer, estamos caminhando. Se o DIEESE já foi reconhecido em nível federal como uma instituição de utilidade pública, eu acho que nós estamos próximos aí de um reconhecimento para poder estar recebendo alguma ajuda para gente continuar cada vez mais prestando o nosso serviço não só ao movimento sindical, mas a toda sociedade brasileira.

Reflexões sobre a vida sindical

Eu tive vários momentos ruins em minha vida. Eu acho que o momento mais marcante foi 83, quando nós estávamos no auge da discussão de formação da chapa de oposição aqui em São Paulo. Minha vida era trabalhar, ir para as reuniões. Chegava em casa por volta de uma hora da manhã, tomava um banho, levantava às quatro e meia, cinco horas, para quando fosse cinco e meia da manhã estar nas portas de fábrica distribuindo material, jornais de oposição. Eu tinha as filhas pequenas, uma com nove, outra com sete, e um dia cheguei em casa, meio frio, tomei um banho, encostei perto da mulher, e minha esposa começou a chorar e a falar: "Você não vê mais as suas filhas. Você sai de manhã e as suas filhas estão dormindo. Você volta, as suas filhas estão dormindo." O casamento quase foi pro vinagre. Isso em 83. E hoje, mesmo no sindicato, acho que não mudou muito não. Nossa vida é o movimento sindical. Quando não é campanha salarial, é campanha política, é uma coisa e outra. Sobra pouco tempo para o lazer, mas eu procuro aproveitar bem. Aquele final de semana que realmente não tem nada, eu procuro pegar esposa e ir para Ibiúna, lá para chacrinha, pisando na grama, na terra, pelo menos brincando lá com os meus sobrinhos, e agora, daqui mais uns dias, com os netos. Já tenho dois netos que estão fazendo um aninho, logo, logo já estão correndo atrás da bola e, quem sabe, eu vou ter pique ainda para correr, brincar um pouco com eles. Eu procuro aproveitar o tempo que eu tenho, assim, de final de semana, eu procuro realmente sair com a família, sair com a esposa, ir para algum lugar, tal. Mas é muito pouco, realmente essa vida toma muito o tempo da gente. Se você não tiver uma pessoa ao seu lado, uma pessoa que realmente entenda, realmente é o que acontece com a maior parte dos sindicalistas: acaba se separando, quando você vai ver, o cara fala: "Estou na segunda, estou na terceira…" você pensa que é marcha de carro, não, é esposa mesmo o cara trocou, já está na terceira, na quarta ou na quinta esposa, porque ninguém agüenta essa vida não.

A minha esposa se dedicou ao lar, cuidar das filhas, da formação das crianças. Hoje que ela pensa em fazer alguma coisa, mas tem uma sobrinha que mora com a gente, tem uma filhinha dela lá, então o tempo dela mais é cuidar de casa e da menininha que fica lá com ela fazendo companhia. Minhas filhas são casadas, têm a sua vida também. Graças a deus, peguei uma época boa ainda, que elas conseguiram estudar, se formar. Então, estão bem, e profissionalmente elas estão bem. Eu costumo dizer que até melhor do que o pai, pelo menos em matéria financeira, de salário, com certeza elas estão melhor do que eu. Eu tenho duas filhas.

Só tenho um irmão acima de mim que trabalhava em São Bernardo, era um ativista, assim, participava dos movimentos, tal, mas nunca se dedicou assim a querer ser algum dirigente sindical ou coisa desse tipo. Depois quando a Volks foi para Taubaté, ele sossegou . Então quem atua realmente no movimento sindical sou eu. As minhas filhas desde pequenas aprenderam a conviver com isso. Por exemplo, em 83, por aí, na formação da CUT, na formação do PT, eu tinha a minha filha mais nova, que tinha sete anos, oito anos, então eu ia para as reuniões e levava ela junto. Enquanto ficava lá participando da reunião, ela ficava lá nos quadros, desenhando estrelinha do PT, brincando, fazendo coisas desse tipo. E era aquela coisa, eu estava dentro da Ford, então os meus finais de semana era curtir as duas, era sair e ir para clube e levar ela para parque de diversão, quer dizer, no final de semana, eu realmente procurava curtir as duas. Agora realmente elas aprenderam a estar comigo, a estar sempre conversando, têm os seus posicionamentos políticos, aquela coisa toda, mas não são assim ativistas, não são nada. Elas se dedicam mais à sua vida profissional, que trabalham na área de propaganda, na área de marketing, essas coisas, então elas se dedicam mais à sua vida profissional. Mas tem aquele sangue na veia, que também são pessoas, assim, críticas. Em matéria de relacionamento no trabalho, quando se diz a injustiça, ou quando se diz em condições de trabalho, questões de avaliações, então elas são muito críticas até pela questão da formação. Elas têm esse lado de defender, de quando vêem que alguma pessoa está sendo injustiçada, fazer prevalecer a verdade e o bom senso. Isso elas herdaram um pouco de mim.

Sempre procurei passar a questão dos valores, a questão de você estar mesmo dentro de um ambiente de trabalho, quer dizer, você se relacionar bem com todo mundo, a questão de você ser profissional, sabe, para subir na vida não ter que ficar pisando em ninguém, quer dizer, subir… Se tiver que ser seu, é pelos seus méritos, pelo seu merecimento, mas não por estar aí prejudicando um ou outro. Agora elas aprenderam muito bem esses valores e, graças a deus, se deram bem até hoje, Nas empresas que elas trabalham, trabalharam, sempre evitavam de falar muitas vezes que o pai era um sindicalista, tal, mas não tinha jeito. O pessoal descobria de alguma forma. Por exemplo, uma vez, eu estava indo para Brasília, estávamos no avião eu, o Paulinho, o Feijó, aí a Globo estava indo junto, entrevistando o Paulinho, entrevistando o Feijó. Aí um cara me perguntou se eu também fazia parte daquela delegação sindical, e eu falei: "Faço. Também sou diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Eu sou isso, sou aquilo…" O cara: "Ah, legal." Aí ele falou que trabalhava no Pão de Açúcar, aí eu falei: "Gozado. As minhas filhas trabalham lá." Aí ele olhou assim para minha cara, e ele falou: "Pô, não vai falar que a sua filha é a Eliane?” Que eu tenho, a minha filha mais nova, ela é moreninha, os olhos bem claros assim, o rosto redondo assim igual ao meu. Eu falei: "É minha filha." Falou: “Você está brincando. Ela trabalha comigo na área de propaganda, na área de marketing." Aí eu falei: "Rapaz, quando eu chegar lá em Brasília, a primeira coisa que eu vou fazer é ligar para ela e dizer que eu estive com você no avião e que descobri que você é sindicalista ." Mas foi assim, só pela brincadeira, nunca as prejudicou em nada.

Aí teve esse fato de eu estar no avião como essa pessoa que é diretor, trabalhava na área de propaganda com essa minha filha mais nova, e também uma vez a mais velha, numa reunião da empresa, estava discutindo a questão de avaliações de funcionário, e ela era supervisora da equipe da área de propaganda e marketing. Aí o cara do RH falando com ela sobre aquele negócio de avaliação, e aí ela disse,: "Olha, eu acho justo, eu acho que temos realmente que fazer avaliação . Mas da mesma forma que eu faço a avaliação do meu grupo, eu acho que o meu grupo também deveria fazer uma avaliação minha, para saber, o que eles acham, o que eles pensam da minha atuação, da minha forma de agir, de ser." Aí o cara ficou olhando assim para ela, falou: "Puxa vida, eu conheci um dirigente sindical que batia nessa tecla de você estar fazendo avaliação 360 graus, quer dizer, não só um para encarregado avaliar o trabalhador, mas os trabalhadores também avaliarem o encarregado, o supervisor e tal." Aí a minha filha ficou vermelha , mas não falou nada. Depois o cara chegou lá na sala dele, acho que ele viu, ele era de RH, ele viu a ficha, aí ele mandou um e-mail ela: "Por um acaso o seu pai não é o Fulano de Tal…?” Aí ela pegou, porque ele falou: "Eu conheci o seu pai. Ele era… ele foi diretor de recursos humanos da Multibrás, na época que eu era diretor lá da região." Aí ele falou que me conhecia, que tinha um respeito muito grande pela forma de eu agir, minha forma de negociar, tal.   Mas elas evitam falar assim em serviço que o pai é um dirigente sindical, mas não tem jeito, porque muitas vezes aparece na televisão, aparece… Tinha uma época que eu aparecia nas greves da Ford junto com o caminhão de som, aí o pessoal acaba sabendo quem eu sou.

Quando uma pessoa resolve ser militante ou fazer um trabalho dentro de uma empresa, é porque tem uma retaguarda, tem alguém ao seu lado, que entende a situação, que compreende. Quando você tem uma pessoa que a família não entende, que a família é contra esse tipo de coisa, essa pessoa, por mais que ele se esforce, acaba não seguindo, porque a questão da família pesa muito. O cara chegar em casa, o pai, ou a mãe, ou o irmão, ou a esposa: "Ah, você ainda vai acabar perdendo o emprego.

Olha, veja bem o que você está fazendo, não sei o quê…" Quer dizer, acaba jogando para baixo, então essa pessoa uma hora acaba realmente se desestimulando. Agora, quando você tem uma pessoa em casa, uma pessoa que realmente te entenda, aí você acaba realmente seguindo. Eu, por exemplo, digo o seguinte: o meu pai não teve nenhuma atuação política, veio da Espanha com sete anos de idade, meu avô veio fugido da guerra, mas o meu pai tinha uma forma de dizer que era assim : "Aqui no Brasil, para acontecer alguma coisa, para ter alguma revolução, acontecer alguma coisa, 80% da população tem de estar passando fome. Enquanto 80% da população não estiver passando fome, aqui nesse país não acontece nada”. E eu vi o meu pai falar aquilo, e hoje eu fico pensando, realmente é verdade. Você vê as coisas que acontecem nesse país e realmente o povo não estar realmente tomando posições mais radicais. Teve aquela ação do impeachment e tudo mais, mas realmente eu acho que enquanto, enquanto talvez a maior parte da população não estiver passando fome, realmente nesse país não acontece nada. Então eu via o meu pai, uma pessoa que não tinha estudo, dizendo isso. E também em casa era a mesma coisa, quer dizer, chegando em casa, eu contava das brigas que eu fazia na empresa aí por questão de aumento, não sei o que, e ele falava para gente: "Você tem mais é que lutar mesmo, brigar pelos seus direitos. O trabalhador só é bom, só presta para o patrão enquanto ele estiver produzindo. Na hora em que ele não conseguir mais produzir, você pode ter certeza que o patrão troca ele por um outro. Então você tem mais é que reivindicar mesmo e lutar”. Quer dizer, era aquilo que fazia com que eu realmente continuasse na minha luta, reivindicando melhores condições trabalho, melhores salários. Acho que a questão da família é fundamental. Você ter pessoas que realmente te apóiam, ou se não te apóiam assim 100%, mas pelo menos não fique jogando para baixo qualquer coisa que você esteja fazendo e que possa estar correndo risco de perder o emprego. Por exemplo, o que eu disse lá em 79: eu tinha dois meses de fábrica, eu não tinha nem passado pela experiência na Ford, que eu entrei no dia 13 de agosto e antigamente a experiência na empresa era três meses. A greve se deu no dia 25 de outubro. E, mesmo assim, eu falei: "Eu não nasci lá dentro, acho que não vou morrer lá dentro”. Se tiver que me mandar embora, vai me mandar embora de qualquer jeito. Então, enquanto tiver um trabalhador lá na rua parado, eu vou estar junto com eles, não vou entrar para trabalhar. E fiz a greve, e eles não me mandaram embora e acabei me aposentando lá. Então eu acho que a questão da família é realmente importante, você ter uma família para te dar o suporte.

A minha esposa hoje não esquenta mais a cabeça, hoje também já deu o que tinha que dar. Já estou aposentado, estou cuidando do Sindicato Nacional dos Aposentados. Estou na direção do sindicato e acho que a fase mais brava já passou, que era época que eu estava dentro da Ford, nas greves, nas ocupações que a gente fazia dentro da empresa, ou mesmo quando estava na diretoria do sindicato, nas greves que a gente fazia. Hoje ela sabe que não corro mais aquele risco de perder o emprego devido a um movimento, a uma greve, ou qualquer coisa. O que ela teme, muitas vezes, é quando vai para esses movimentos de greve, de uma briga, onde a gente pode acabar se machucando . Fora isso, hoje já não tem mais preocupação.

Costumo dizer para minha esposa, para o pessoal, o seguinte: sou muito grato, ao movimento sindical, a essa minha atuação sindical pelo seguinte: sou uma pessoa que nunca teve pretensões de ser diretor de sindicato, coisa desse tipo. Foi uma coisa que aconteceu naturalmente. Mas eu por eu ter sido da comissão de fábrica na Ford Ipiranga, ter sido dez anos da comissão de fábrica, eu tive a oportunidade de aprender muito, de ter viajado muito também para outros países, para entender, saber como que é o relacionamento capital e trabalho nos outros países. Na época da Ford, fui várias vezes para os Estados Unidos, para a Argentina, Canadá, Alemanha, Bélgica, Suécia, ou seja, eu tive muitas oportunidades. E uma coisa que eu digo é o seguinte: o movimento sindical me deu uma oportunidade de fazer uma coisa que eu vi e com a qual eu me identificava muito, que eu gostava e que eu gosto de fazer que é negociar, porque eu acho que a questão do negociador é um dom, não é todo mundo. O aprendizado que eu tive, na época de 79, 80, quando eu voltei para São Paulo, que eu comecei a atuar no Movimento de Oposição, eu era uma pessoa extremamente radical. Eu era que nem o PCO, ou tudo ou nada, vamos pro pau até o patrão ceder. Quer dizer, ia pro pau e não media conseqüências, não media nada. E eu acho que, com o tempo, isso foi me ensinando, fui aprendendo a ter mais equilíbrio, para poder negociar, ver o que é melhor , tentar arrancar o máximo que você puder, mas também ver o outro lado. Não adianta você matar a galinha dos ovos de ouro. Eu acho que foi isso que eu tive como lição, ou seja, ter a sensibilidade de aprender a negociar. E eu posso dizer que mesmo não tendo nenhuma formação acadêmica, não sendo nenhum técnico, em matéria de negociação, sou uma pessoa que aprendeu muito. Para estar comigo numa mesa de negociação também tem que ser muito bom do outro lado, porque para me levar, para me convencer, é difícil. Acho que todos esses anos de aprendizado fizeram com que eu aprendesse e soubesse ver muito bem, também, até onde eu posso chegar, ou até onde outro lado pode chegar, até onde eu posso arrancar o máximo de coisas melhores para as pessoas que eu estou representando na mesa de negociação.

Meu sonho mesmo, não sei se eu vou chegar a ver, mas seria ver realmente um movimento sindical bem diferente desse que nós temos hoje. Eu acho que o movimento sindical tem avançado muito, mas ainda nós temos dentro desse país muitos dirigentes sindicais que se valem do cargo de dirigente sindical só para benefício próprio.

Eu costumo imitar muito o Paulinho, que diz: "Quando você viaja para o interior do Estado de São Paulo, você vê muitos sindicatos pobres com presidentes ricos. Quanto mais pobre é o sindicato, pode contar que mais rico é o presidente do sindicato, o dirigente sindical." Acho que temos que mudar. Acho que é por isso que a questão da reforma sindical, tem que vir, tem que se formar essa comissão, criar regras mínimas de estatutos para que as eleições possam ser democráticas, para que possa colocar nos sindicatos pessoas voltadas aos interesses daquela categoria e não ser como hoje, onde temos sindicatos que o mandato é de oito, dez, 12 anos. Você tem sindicatos que é de pai para filho. São coisas que têm que acabar. Meu sonho seria ver um movimento sindical de uma forma bem diferente, um pessoal bem preparado, defendendo os interesses dos trabalhadores. Uma pessoa que se perpetua num cargo de dirigente sindical é uma pessoa incapaz, porque se ela for um dirigente sindical capaz, que se preparou, e que fez curso e que estudou, tem que ir avançando no movimento sindical. O cargo de diretor, de dirigente sindical deveria ser uma mera passagem para uma outra coisa como, por exemplo, um cargo de técnico, vereador, deputado, um cargo político, coisa desse tipo. Agora, quando você vê um diretor sindical que se perpetua no cargo, pode ter certeza de que aquela pessoa não faz um trabalho na categoria, na base dele, de formação. De medo que algumas pessoas o superem ou acabem o superando. São pessoas que fazem da função de dirigente uma forma de sobrevivência. Só pensa nele próprio. Meu sonho é ver uma estrutura sindical bem diferente dessa que nós temos hoje.

Ortiz e João Inocentini, presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados. Foto: vander metalúrgicos.Ubiraci Dantas, da CGTB, e Ortiz. Foto: vander metalúrgicos1º de maio de 2012. Foto: vander metalúrgicos.

Convenção PDT 2012. Foto Vander metalúrgico. Assembleia Palácio do Trabalhador. Foto Vander metalúrgico.Posse na Secretaria do Trabalho e Emprego do Estado de SP. Março de 2012. Foto vander metalúrgico.

Avaliação/Projeto memória

Confesso para vocês o seguinte: quando estava vindo para cá, vinha pensando: "Meu Deus do céu, o que eu vou falar? O que eles vão me perguntar sobre o DIEESE, sobre a questão da minha participação enquanto dirigente?” Mas, eu acho que foi gratificante por uma certa forma fazer parte disso, que vai ficar para história, quer dizer, minha contribuição humilde, minha contribuição nesses meus anos de militância, de dirigente, esses dois anos na presidência DIEESE. Acho que é coisa que não tem o que pague. Uma coisa que vai ficar na memória, vai ficar para o resto da vida. Talvez as minhas filhas, não sei se um dia ainda vão mudar, podem vir a ter alguma atuação sindical ou política, mas, sei lá, meus netos, meus bisnetos, um dia lerem, verem alguma publicação. "Meu avô, pelo menos, fez alguma coisa ou tentou fazer”. O gratificante é você fazer parte da história, saber que você, por muito pouco que você fez, você contribuiu, você ajudou alguma coisa. Eu me sinto gratificado quando vejo pessoas que vêm no sindicato dos aposentados, pessoas que chegam e falam para outra pessoa: "Esse cara sim, esse cara realmente representava os trabalhadores, esse cara lutava, esse cara fez isso, esse cara fez aquilo." Quando alguém, daqui a alguns anos, ler alguma coisa sobre DIEESE, sobre os 50 anos do DIEESE, está lá a minha pequena contribuição.

Fonte: Todos os depoimentos foram gravados no ano de 2006 e estão hospedados no site http://memoria.dieese.org.br/museu

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