Chiquinha Gonzaga

15 ago 2022 . 03:08

Chiquinha Gonzaga (Francisca Edviges Neves Gonzaga), Rio de Janeiro (RJ), 17/10/1847 — Rio de Janeiro (RJ), 28/02/1935. Musicista

Filha de José Basileu Neves Gonzaga, militar de ilustre linhagem no Império, e de Rosa, filha de escravizada. Cresceu e se educou num período de grandes transformações na vida da cidade. Além de escrever, ler e fazer cálculos, estudar o catecismo, e outras prendas femininas, aprendeu a tocar piano. Aos 16 anos se casou com o empresário Jacinto Ribeiro do Amaral, escolhido por seu pai.

Inquieta e determinada, Chiquinha se separou do marido ao se apaixonar pelo engenheiro João Batista de Carvalho, com quem passou a viver. Na época foi um escândalo que resultou em ação judicial de divórcio perpétuo movida pelo marido no Tribunal Eclesiástico, por abandono do lar e adultério.

A Chiquinha Gonzaga que emerge no cenário musical do Rio de Janeiro em 1877, após desilusão amorosa, maldição familiar, condenações morais e desgostos pessoais é uma mulher que precisa sobreviver do que sabia fazer: tocar piano. Ninguém ousara tanto. Praticar música ao piano, ou até mesmo compor e publicar, não era incomum às senhoras de então, mas elas nunca (ou raramente) cruzavam a fronteira do espaço considerado feminino, o da vida privada.

Para que a música fosse uma profissão foi exigido dela determinação e coragem. Passou a aperfeiçoar sua técnica com o pianista português Artur Napoleão, também seu editor, e a tentar escrever partituras para o teatro musicado.

Em janeiro de 1885, estreou no teatro com a opereta A corte na roça, representada no Teatro Príncipe Imperial, ocasião em que a imprensa se embaraçou ao tratá-la – não existia feminino para a palavra maestro. Ao longo de sua carreira de regente, Chiquinha Gonzaga musicou dezenas de peças de teatro nos gêneros os mais variados. Em 1889, regeu, no Imperial Teatro São Pedro de Alcântara, um original concerto de violões, promovendo este instrumento ainda estigmatizado.

Ela também tinha intensa atividade política. Abraçou diversas causas sociais do seu tempo, denunciando assim o preconceito e o atraso social. Era uma abolicionista fervorosa e contribui com o que arrecadava com sua música, para a Confederação Libertadora, chegando a comprar a alforria de José Flauta, um escravo músico.

Na virada do século XIX para o XX, Chiquinha Gonzaga criou a marchinha carnavalesca, compondo a música que a popularizaria, Ó abre alas, e obtendo com isso grande e longevo reconhecimento.

Como autora de músicas de sucesso, sobretudo pela divulgação nos palcos populares do teatro musicado, Chiquinha Gonzaga sofreu exploração abusiva de seu trabalho, o que fez com que tomasse a iniciativa de fundar, em 1917, a primeira sociedade protetora e arrecadadora de direitos autorais do país, a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (Sbat).

Chiquinha Gonzaga teve seu trabalho reconhecido em vida, sendo festejada pelo público e pela crítica. Personalidade exuberante, ela foi dos compositores brasileiros a que trabalhou com maior intensidade a transição entre a música estrangeira e a nacional. Com isso, abriu o caminho e ajudou a definir os rumos da música propriamente brasileira, que se consolidaria nas primeiras décadas do século XX. Atravessou a velhice ao lado de Joãozinho, a quem a posteridade agradece a preservação do acervo da compositora.

Texto extraído e adaptado do site dedicado à Chiquinha Gonzaga 

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