Joaquim dos Santos Andrade (Joaquinzão)

15 ago 2022 . 01:43

Joaquim dos Santos Andrade (Joaquinzão), São Paulo (SP), 16/10/1926 – São Paulo (SP), 05/02/1997. Metalúrgico, sindicalista

Filho de trabalhadores portugueses, que tiveram que migrar para o Brasil “por razões políticas”, ele nasceu no bairro da Penha, zona leste de São Paulo, em 1926. Começou a trabalhar aos 16 anos, em uma fábrica de tecido, e aos 17 ingressou na metalúrgica Matarazzo.

Joaquim participou da greve geral de 1953, a Greve dos 300 mil, ao lado de companheiros como Plácido e Remo Forli, que era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo na época. Em depoimento ao Centro de Memória Sindical ele disse que:

“Conheci [o Remo Forli] quando ele foi eleito. Ele era temperador, trabalhava num forno de tempera de material e eu me relacionava muito com ele devido a tempera das ferramentas, que eu era encarregado de afiar. A partir do momento que ele veio para o sindicato, nós aumentamos a vontade de vir, porque ele foi sempre um excelente companheiro, muito cordato, delicado e solidário. Era um companheiro que enfrentava com muito senso de responsabilidade as lutas dentro da fábrica”.

Ele se filiou ao Sindicato em 1957. Disputou contra o próprio Forli a direção do Sindicato em 1961 e contra Delellis em 1963.

Joaquim dos Santos Andrade chegou a ser interventor no Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos. Mas em São Paulo ele chegou à presidência eleito no pleito realizado entre 2 e 6 de agosto de 1965, através de uma chapa única, é verdade, mas que foi articulada pelos militantes como forma de driblar a ditadura.

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, de 1987, ele falou que:

“Fui eleito presidente do Sindicato porque havia uma junta governativa. Fui interventor do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos, em um período de quatro meses, depois do Golpe Militar. Existia uma opção, ou aceitaríamos militares como foi feito em inúmeros sindicatos, como no próprio Metalúrgicos de São Paulo, em que era um inspetor, um sujeito que não tinha nada a ver com trabalhadores. Ou então os trabalhadores iam assumir a responsabilidade de conduzir o seu sindicato até que nova eleição fosse produzida. E foi o que aconteceu em São Paulo, e fomos eleitos em 1965. E daí para cá, reeleitos pela vontade dos trabalhadores sucessivas vezes, sete me parece, culminando meu mandato que termina agora. Não me candidatei, apenas apoiei a chapa que ganhou as eleições e tomará posse agora no dia 30, já que no ano passado eu fui eleito, num Congresso de trabalhadores, presidente da CGT. Acho que em 1968 houve um episódio importante, em que caminhávamos rumo à resistência, fundamos o MIA em São Paulo, que era o Movimento Intersindical Anti-Arrocho, um órgão de contestação intersindical. Alguns companheiros foram presos, outros cassados, porque tínhamos um Ministro chamado Jarbas Gonçalves Passarinho, que era do Trabalho. E como o movimento sindical se chamava MIA, Movimento Intersindical Anti-Arrocho, quem “mia” é gato, obviamente, o Ministro, como “passarinho”, tinha medo do gato (risos). Razão pela qual houve o fechamento e uma explosão em 1º de Maio, aqui na Praça da Sé. Houve incêndio de palanques, uma tentativa da direita, de implosão do movimento sindical, quando a direita tentava fazer tudo isso e jogar a culpa na esquerda, a exemplo do que aconteceu recentemente no Rio-Centro”.

Joaquinzão, com o jornalista Ricardo Paoletti, na entrega do premio Wladimir Herzog 26/10/1981. Foto: Laércio S Miranda – Oboré

Em 1967 ele encabeçaria novamente a Chapa 1, prometendo, desta vez, construir a colônia de férias, um hospital para a categoria, bolsas de estudos, cursos de capacitação, além da luta contra a retirada de direitos promovida pela ditadura. Contra ele concorreram a Chapa 2, de Waldemar Rossi, militante católico, que enveredou por um esquerdismo radical e crítico à estrutura sindical, e a Chapa 3, que era a chapa amarela, da ditadura, liderada por Santo Rizzo.

Em dezembro de 2022, o jornalista Carlos Pereira, publicou no jornal A Hora do Povo, um artigo chamado Joaquinzão: a construção da unidade dos trabalhadores na luta contra a ditadura, em que diz:

“A história por vir de Joaquim dos Santos Andrade, a partir de 1978, é autoexplicativa. Transformou o Sindicato numa máquina combativa e de apoio ao trabalhador, exemplo para o movimento sindical; integrou os sindicatos na luta pela anistia; comandou a solidariedade a São Bernardo, em São Paulo; integrou, junto com Lula, com José Francisco (da CONTAG), com Hugo Peres (da Federação dos eletricitários), com as unidades sindicais do Rio e de SP, os principais pilares da CONCLAT (Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras); colocou a estrutura do sindicato a serviço da fundação da CGT (Central Geral dos Trabalhadores); foi o principal dirigente da greve geral de 21 de julho de 1983 (a capa da revista Veja foi “a greve a la Joaquinzão”).

No final de 1996, eu e Bira [Ubiraci Dantas de Oliveira] visitamos o Joaquinzão em sua casa de operário ferramenteiro da Matarazzo, na Penha. Estava bastante lúcido, apesar do AVC que sofrera. Fizemos denúncia contra anarco-sindicalistas que estavam fazendo uma greve irresponsável. Ele colocou um disco de Lupicínio Rodrigues para dizer o que isso representava e riu muito quando ouvimos “Esses moços”… “Saibam que deixam o céu/ Por ser escuro/E vão ao inferno/À procura de luz””.

Ele morreu no dia 5 de fevereiro de 1997, aos 70 anos, internado no Hospital Municipal do Tatuapé (zona leste de SP), por insuficiência respiratória, broncopneumonia e derrame cerebral.

Na ocasião Ubiraci, vice-presidente da Central Geral dos Trabalhadores (CGT), declarou que: “Os trabalhadores perderam o maior líder sindical de todos os tempos. Ele procurava garantir os direitos que conquistamos no governo de Getúlio Vargas”, declarou Ubiraci Dantas de Oliveira. A diretora do Sindicato dos Metalúrgicos, Nair Goulart, disse que o sindicalista havia representado um papel importante no processo de transição para a democracia brasileira. Já o então presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, disse que Joaquinzão foi um dirigente sindical importante e lamentou os últimos meses da vida de Joaquinzão.

Em seus últimos dias de vida, Joaquim dividiu o quarto com mais dez pessoas por dois meses, foi transferido pelo filho para uma clínica na zona norte logo após a notícia de seu isolamento.

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