30 abr 2020 . 05:00
Movimento Intersindical Antiarrocho
Em outubro de 1967, mais de 40 dos principais sindicatos do Estado de São Paulo, criaram o Movimento Intersindical Antiarrocho (MIA).
Isso porque, com o transcorrer do tempo de vigência do regime militar, a situação dos trabalhadores tornava-se cada vez pior. A Lei nº 4.725, de 13 de Julho de 1965, que estabeleceu normas para os processos dos dissídios, instituiu uma política de arrocho salarial. E, segundo o Dieese, esta política reduziu o salário do trabalhador em 15,9%, em 1965, e em 15,3%, em 1966. Além disso, não havia a perspectiva de reposição da inflação que girava em torno de 30%[1].
Criado para pressionar o governo a acabar com o arrocho salarial, com a participação de sindicatos, como os dos metalúrgicos de São Paulo, Santo André, Guarulhos, Campinas e Osasco, o MIA programou a realização de cinco concentrações que culminariam com um ato político no dia 1º de Maio de 1968, na Praça da Sé, São Paulo.
Para a maioria dos sindicalistas que o compunham o MIA deveria ser um espaço de ação moderada e até com a possibilidade de diálogo com o governo. Para os mais esquerdistas, entretanto, aquela organização intersindical representava uma frente de luta contra o governo e contra a estrutura sindical vigente. E as divergências sobre a condução e a postura do movimento chocaram-se no interior do MIA que se dissolveu, mantendo apenas a organização do 1º de Maio.
1º de maio na Praça da Sé
Em São Paulo quando chegou o dia 1º de Maio de 1968, decididos a repudiar o ato que a ditadura e o governador ‘biônico’[4] Roberto de Abreu Sodré haviam preparado, estudantes e trabalhadores liderados pelo Grupo de Osasco realizaram sua ação de sabotagem.
Articulada com as oposições sindicais, com a esquerda e aliados, toda a ação foi calculada, desde o mapeamento da Praça da Sé, seus lugares de entrada e saída, até a criação de um grupo de autodefesa, com 60 barras de ferro embrulhadas em jornais.
Segundo o historiador Márcio Amêndola[5], escondidos entre as pessoas presentes no evento, os militantes iniciaram um tumulto quando o governador já estava no local. Sodré, seus assessores e até a polícia, foram expulsos do palanque, que foi incendiado pelos ativistas.
O metalúrgico José Campos Barreto, o Zequinha, tomou então a palavra exigindo o fim da ditadura, o apoio à revolução cubana, o fim do arrocho salarial e o apoio à greve de Contagem. Após a destruição do palanque os mais de 1.500 manifestantes saíram em passeata rumo à Praça da República gritando palavras de ordem contra o regime militar. Várias fachadas de bancos e empresas multinacionais foram destruídas com pedradas. Ao chegar à Praça da República diversos discursos foram proferidos, sendo o de Zequinha o mais inflamado e audacioso: ele conclamou os trabalhadores e estudantes do País a enfrentarem a ditadura através da luta armada.
A história nos mostra que, de fato, após sua fundamental participação no ato do dia 1º de maio e na greve de Osasco de 1968, e após ter sido preso e torturado, Zequinha militou na Vanguarda Popular Revolucionário (VPR) e, em 1970 e 1971 no Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), junto com o Capitão Carlos Lamarca, onde propôs um trabalho político junto aos camponeses de sua terra natal, Buruti Cristalino (Bahia), com vistas à implementação da guerrilha rural.
Seu sonho por um mundo mais justo se encerrou no dia 17 de setembro de 1971, quando foi assassinado, junto com Lamarca, no Sertão da Bahia, crivados de balas por agentes da ditadura militar. Ele tinha 26 anos[6].
[1] Miranda 1987: 190.[2] Weffort, Francisco Participação E Conflito Industrial – Osasco E Contagem – 1968. São Paulo: Cebrap, 1972.
[3] Depoimento Joao Joaquim, CMS, 2012.
[4] Nome dado aos Governadores indicados pela Ditadura Militar, sem eleições.
[5] Amêndola, Márcio, Maio de 1968, na Praça da Sé, Instituto Zequinha Barreto (zequinhabarreto.org.br).
[6] Dados do Instituto Zequinha Barreto.
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