03 maio 2012 . 11:53
2008, EUA John Patrick Shanley Com Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams.
Toda instituição social tem suas regras. Seja religiosa, partidária, civil, estudantil ou sindical, a institucionalidade contempla, de uma forma ou de outra, estrutura, hierarquia, normas e valores.
Um partido político, por exemplo, tem uma organização reconhecida por seus militantes, segundo a qual eles devem agir. Esta organização é feita de acordo com a visão de mundo defendida pelo partido, suas divergências quanto à ordem social e de suas propostas de mudança. Comumente estas diretrizes se consolidam de tal forma que se tornam verdades absolutas, pelas as quais se forja qualquer justificativa. A imposição destas verdades não deixa espaço para crítica ou para dúvida. Ou seja, tornam-se dogmas.
As instituições religiosas se utilizam, de forma emblemática de tais dogmas. Sua rigidez e seus preconceitos se justificam em argumentações espirituais, subjetivas, que não necessariamente tem alguma implicação concreta. Por isso, na igreja católica o embate entre setores conservadores e setores progressistas, voltados a causas sociais, são muito acirrados e em muitos momentos ditaram os rumos não apenas da própria organização, mas também da cultura ocidental.
O filme A Dúvida traz o debate sobre conflitos na igreja entre diferentes visões de mundo. O que foi destacado na campanha publicitária do filme foi a questão da pedofilia dentro da igreja. Esta também é uma questão da maior seriedade e que deve ser combatida. Mas, ao assistir o filme, minha impressão é de que ele reforça muito mais a questão ideológica do que do desvirtuamento moral.
O padre se mostra amigável com os alunos e incomoda a diretora por quebrar a aura de autoridade que, segundo ela, ele deveria ostentar. Em seus sermões e em suas falas o padre demonstra uma visão progressista da igreja. Ele acredita que a instituição deva ser mais humana e menos autoritária e que deva se adequar ao tempo moderno. A diretora, por sua vez, sustenta que as autoridades devem manter-se como seres aristocráticos, e que a modernidade é pura abstração a ser combatida pelos princípios bíblicos.
A irmã acha justo quebrar as regras para combater o padre. Sua justificativa é algo como “até o trabalho sujo deve ser feito para zelar por aquilo que ela acha que é a vontade divina”. Desta forma ela é implacável e passa por cima de todos, se apoiando no mito de toda da verdade.
Muitas instituições sociais estão também contaminadas por dogmas e por donos da verdade. O meio sindical está longe de estar fora disso. O debate e a divergência de opiniões é um saudável exercício democrático. Mas estamos falando aqui de “crenças” que se estabelecem e que travam o debate e o avanço das organizações.
Tal qual o filme, muito destas crenças fizeram sentido em outros tempos, mas não acompanharam o rumo da história. Tornaram-se então discursos idealistas e dogmáticos que não admitem dúvidas.
PLAYLIST SPOTIFY MEMÓRIA SINDICAL