02 maio 2012 . 17:26
2002, Brasil Jorge Furtado Elenco: Lázaro Ramos, Leandra Leal, Luana Piovani, Pedro Cardoso
FONTE: Carolina Maria Ruy
Em o Homem que Copiava André (Lázaro Ramos) é um rapaz com cerca de vinte anos que trabalha como operador de foto-copiadora em uma papelaria de Porto Alegre. Enquanto copia, ele aproveita para ler alguns fragmentos do que está copiando. Desta forma, coleciona palavras, frases e trechos das mais diversas ordens e completamente desconexos. Sim, ele é o que se chama de um jovem alienado do processo produtivo. Logo no início do filme o personagem de Lázaro Ramos explica, com certo sarcasmo, todos os mecanismos de seu trabalho, ou seja, como funciona a máquina de xerox.
A limitação de seu salário de R$ 290,00 fica demonstrada logo na primeira cena do filme em que ele está no caixa de um supermercado decidindo o que vai e o que não vai levar. Dentro do tédio de sua vida, ele, ao perceber que precisa ganhar algum dinheiro a mais para aproximar-se de Silvia (Leandra Leal), a menina que paquera, inventa de xerocar notas de cinqüenta reais. Trata-se de uma ironia sobre tirar algum benefício pessoal mesmo do mais alienante dos trabalhos.
Por trás da história de André e Silvia, apresentam-se muitos desafios que se colocam à juventude: o emprego alienante, a carga de responsabilidades com a família, famílias desagregadas, separações, aliciamento, o convite ao tráfico de drogas e a possibilidade de perder os horizontes.
O filme mostra de maneira despretensiosa que o mundo do trabalho na feroz sociedade do capital costuma ser cruel com os jovens. Eles são obrigados a renunciar a seus anseios nesta fase de sonhos, aspirações e de ebulição hormonal, e se enquadrarem na “livre competição” que, com sorte, os enquadrará em algum tipo de trabalho.
Mas, mesmo em situações difíceis a juventude tende a preservar uma dimensão lúdica e imaginativa da vida, o que muitas vezes leva a comportamentos inesperados e soluções criativas. Não quero dizer, com isso, que o homem que copiava é algum tipo de revolucionário. Sua alegórica “reprodução de capital” é sua válvula de escape e passaporte para a vida. Mas isso não passa de fantasia.
A dura realidade, as linhas tortas que escrevem a história e o inusitado final feliz, demonstram que a felicidade quando “roubada” não é a que vale, mas que, por outro lado, a realização neste mundo não é impossível. Ela é um bem a ser conquistado.
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