03 maio 2012 . 10:15
1989, Alemanha Percy Adlon Elenco: Marianne Sägebrecht, Brad Davis, Judge Reinhold, Erika Blumberger, Alex Winter.
FONTE: Carolina Maria Ruy
Objeto profícuo de reflexões de cunho antropológico, sociológico, econômico, cultural etc, o mundo do trabalho é muito mais complexo do que o ofício e as ofertas e demandas de emprego. Ele é base da equação “trabalho, produção, salário, consumo e capital” sobre a qual se organiza a sociedade. Como, então, fazer com que esta equação funcione? Como convencer milhões de pessoas a consumirem? Grosso modo: criando necessidades sobre os objetos produzidos.
Voltando para o noticiário do dia a dia. Novembro de 2008. Diante da crise financeira que se alastrou de Wall Street para o mundo, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, procura incentivar os trabalhadores a não deixarem de consumir por medo da crise e do desemprego. Segundo Lula, se o trabalhador não comprar, não aquece o comércio, esfriando a indústria. Se a indústria não produz, não tem emprego. Não há saída viável neste momento que não fazer funcionar o sistema que está aí. O presidente tem razão.
Mas a economia, ao colocar como fundamental a necessidade do consumo, acaba criando um risco para si mesmo o calote, as dívidas não pagas. No filme “Rosalie vai às compras” o cineasta Percy Adlon (mesmo diretor de “Sugar Baby” e “Bagdá Café”) abordou, de forma irônica, a contradição entre o consumismo e o poder aquisitivo do trabalhador. A frase usada para promoção do filme era bastante sugestiva, e de arrepiar os cabelos de qualquer economista economistas: “Quando você deve cem mil dólares é um problema, mas quando é um milhão o problema é mais do banco do que seu!”.
Nesta sátira, a protagonista Rosalie, uma dona de casa alemã que vive no Arkansas, interior dos Estados Unidos, adota uma postura exageradamente consumista e foge das contas e dos pagamentos. Rosalie compra tudo o que ela, seus sete filhos e o marido, um piloto de avião, desejam. Mas ninguém paga a conta. E nem poderiam, pois a renda familiar não seria suficiente para isso. A estratégia era falsificar cheques e cartões de crédito. Ela, que possuía uma quantidade indecente de cartões de crédito, pagava um com o outro.
O filme fala, de maneira cômica, da inadimplência. Este é o reverso da máquina sócio-econômica. E assim é o nosso tempo histórico. O ato de adquirir algum produto não é o fim do processo produtivo, mas uma forma de sustentar um sistema maior e de difícil definição. “Rosalie vai às compras” suscita uma reflexão sobre os atos de ter coisas e de pagar, ou não, por elas.
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