Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo faz 91 anos

27 dez 2023 . 19:42

Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de SP, com Lula no 1º de Maio 2023/Foto: Jaelcio Santana

Um Sindicato em sintonia com a história do trabalhador.

Por Carolina Maria Ruy

O Sindicato dos Operários Metalúrgicos de São Paulo foi fundado no início do processo de industrialização e urbanização do Brasil, quando o país deixava sua situação predominantemente agrária e ainda colonial. A fundação ocorreu no dia 27 de dezembro de 1932, na rua Venâncio Aires, nº 10, com a presença de cerca de cem metalúrgicos. O reconhecimento oficial pelo Ministério do Trabalho viria poucos meses depois, em 02 de maio de 1933.

No início, a base dos metalúrgicos era disputada por um resquício do movimento anarquista no Brasil, e por aqueles que viriam a fundar o Sindicato em 27 de dezembro de 1932.

Primeira diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de SP/Arquivo CMS

No ano em que o Sindicato foi fundado, a Lei Áurea, que pôs o fim à escravidão tinha apenas 42 anos. É quase o tempo que temos entre a atualidade e o fim da ditadura militar, em 1985, portanto, 38 anos. Desta forma, em 1932, existir uma organização de trabalhadores oficial, o Sindicato, representava um avanço radical com relação ao triste, e então recente, passado escravista.

Os anos 1930 e 40 foram de grande ebulição para o movimento sindical, e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo viveu todas elas, sendo alvo de uma intensa disputa política entre ministerialistas, anarquistas, integralistas e comunistas.

Começo modesto

O Sindicato começou modesto, em uma pequena sala alugada na Praça João Mendes, funcionando à noite, pois os diretores, que recebiam pessoalmente os filiados, trabalhavam nas fábricas durante o dia. Passou pelo Palacete Santa Helena, na Praça da Sé, em uma época em que a Catedral e o metrô ainda não existiam. É simbólico, portanto, que o Sindicato tenha acompanhado o crescimento da cidade. Somente em 1941 foi criado o jornal, O Metalúrgico, e em 1954, foi adquirida a sede própria na Rua do Carmo.

Antes de 1964, o Sindicato sofreu ao menos três intervenções: em 1936, em 1939 e em 1946. E já era uma prática dos metalúrgicos driblar as intervenções através de chamadas “comissões de fábrica”.

Grandes movimentos nos anos 50 e 60

Nas décadas de 1950 e 60 o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, sob influência do Partido Comunista, foi central nos grandes movimentos que redefiniram os rumos das negociações trabalhistas e da organização sindical. Junto com os Têxteis, Gráficos e outras categorias, protagonizou a Greve dos 300 mil, em 1953, a fundação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 1955, a luta pelo abono salarial, em 1962, a Greve dos 700 mil, em 1963, toda a pressão e a resistência política vivida no governo de João Goulart, e, finalmente, foi vítima do golpe de 1964, tendo a sede cercada na manhã do dia 31 de março.

Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, presidente da entidade no período de 1965 à 1987

Em abril de 1964, logo após o golpe militar, o Sindicato sofreu nova intervenção ficando sob comando de Carlos Ferreira dos Santos por três meses e depois de uma junta interventora. Novas eleições ocorreram em janeiro de 1965 e, para afastar a possibilidade de o governo indicar um militar para assumir a direção, remanescentes da antiga diretoria optaram por compor com o “grupo do Joaquim”.

O metalúrgico Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, foi eleito e assumiu em 1965 permanecendo até 1987. Neste período surgiram grupos de oposição, que preferiam partir para o enfrentamento com a ditadura ao invés de compor com um sindicalista da confiança da Federação dos Metalúrgicos de São Paulo, entidade que, naquela época, apoiava a ditadura militar. A parcela mais radicalizada da oposição nunca aceitou o comando de Joaquim. Outros militantes, egressos daquele grupo, por outro lado, entenderam, com o tempo, que era melhor agir politicamente por dentro da estrutura. Mais do que isso, reconheceram que o presidente lhes dava o espaço e o apoio necessário para a ação política.

Reunião de sindicalistas em 1979, entre eles, Joaquim dos Santos Andrade, Lula, Jacob Bittar, Hugo Perez, Enos Amorina e Djalma Bom/Foto: Iugo Koyama

O próprio Joaquim se engajou na luta sindical através do Movimento Intersindical Antiarrocho (MIA), de 1967; das greves de 1978 a 1980; da participação na Conclat de 1981, quando o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, apesar de ter sido a maior base de sustentação do evento, foi escanteado pela Comissão Pró-CUT. Ele também foi protagonista da greve geral de 1983; participou da campanha pelas Diretas e, sobretudo, reivindicou respostas pelos assassinatos dos metalúrgicos da base paulistana no contexto da repressão.

Período democrático

Do fim da década de 1980 em diante, o país entrou no período democrático mais longo de sua história. As diretorias estavam livres da ameaça de cassação.

Luiz Antônio de Medeiros, presidente da entidade entre 1987 a 1997, na fundação da Força Sindical em 8 de março de 1991

O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, sobretudo após a criação da Força Sindical, em 1991, além das tradicionais campanhas salarias e da luta cotidiana pelos metalúrgicos de São Paulo, envolveu-se em causas nacionais, como a que levou os sindicalistas a realizar as Marchas da Classe Trabalhadora. Em 1998 o Sindicato unificou sua base com a base de Mogi das Cruzes, passando a chamar-se Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes.

Paulo Pereira da Silva, Paulinho da Força, presidente da entidade entre 1997 a 2001. Na foto Campanha de Solidariedade com distribuição de alimentos em Monte Santo-BA/Foto J Goncalves

Desindustrialização

Entretanto, do ponto de vista econômico, ao contrário do crescimento industrial verificado entre 1930 e 1980, cujo centro nervoso estava em São Paulo, de meados da década de 1980 em diante o país sofreu uma progressiva de desindustrialização, um intenso processo de terceirização e desemprego e uma consequente desorganização da classe trabalhadora. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, como todo o movimento sindical, teve perdas neste processo e viu aumentarem as lutas de resistência e de contenção. O ápice do desmonte industrial e sindical ocorreu em 2017, quando a Reforma Trabalhista golpeou o movimento sindical de forma nunca antes vista.

Foi mais um período de enfrentamento que, apesar do ambiente de liberdade política, se colocou como um desafio poderoso.

A luta faz a lei

Desde 2008 o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes é presidido por Miguel Eduardo Torres.

Miguel Torres, presidente da entidade, na campanha salarial de 2023

Ao longo dos anos, Torres demonstrou ativismo sindical, liderando diversas campanhas, como a contra a fome em 1998 e a Marcha para Brasília em 2000. Participou de órgãos como o Conselho Nacional da Assistência Social em 2002.

Em sua gestão, Torres, que criou o slogan “A luta faz a lei”, liderou e lidera diversas lutas, incluindo a redução da jornada de trabalho, estabilidade para delegados sindicais e regulamentação da terceirização. Ele também é protagonista de eventos, marchas, campanhas e no diálogo com todas as esferas do poder público, destacando-se na defesa dos trabalhadores.

Em 2023, a categoria metalúrgica conquistou reajuste salarial, e o país testemunhou avanços, como a lei de valorização do salário mínimo e a igualdade salarial. Torres representou o governo brasileiro em viagens à China e aos Estados Unidos, sendo membro de importantes conselhos governamentais. O ano também foi marcado por audiências para reforçar as reivindicações da classe trabalhadora.

O Sindicato chega em 2023 como uma das poucas entidades com peso e força que manteve a unidade em 91 anos. Uma entidade que ainda é objeto de uma história disputada ideologicamente e simbolicamente. E que, principalmente, é uma força para os trabalhadores na luta entre o capital e o trabalho.

Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical

 

Comentários



ÚLTIMAS DE

Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo

Fotos históricas

Documentos Históricos

  As fotos estão em ordem cronológica Remo Forli e Conrado Del Papa, no lançamento da pedra fundamental da sub-sede de Osasco do Sindicato dos Metalúrgicos...

VER MATÉRIA

Visão geral do acervo

Arquivo

Centro de Memória Sindical – Arranjo do Acervo

VER MATÉRIA

Arquivo – Sindicatos

Arquivo

Catálogo de coleções de sindicatos, acondicionadas em caixas contendo documentos em papel de variadas tipologias. Documentos de datas esparsas entre as décadas de 1930 e...

VER MATÉRIA

Jornais

Arquivoc

Catálogo de coleções de jornais. Jornais de datas esparsas entre as décadas de 1920 e 2010. Acondicionamento em pastas.

VER MATÉRIA

Música e Trabalho

PLAYLIST SPOTIFY MEMÓRIA SINDICAL

Show Buttons
Hide Buttons